Afinal, o que significa PROGETTAZIONE?


Em Reggio Emilia, inspiradora cidade ao norte da Itália, um termo usado para apoiar as práticas pedagógicas curriculares que denota uma estratégia pedagógica cotidiana é progettazione, ou seja, “projetar para os próximos passos, para o futuro”. Sendo assim, embora ela apoie a pensamento projetual, não podemos simplesmente traduzir o termo por “metodologia por projeto” (ou PBL, em inglês). Há, no entanto, uma estreita relação com os princípios criativos do Design Thinking e até de Futures Thinking.
Assim, é uma estratégia de trabalho pela qual os educadores, mais do que “planejar” de modo linear e previsível um acontecimento ou sessão, ou delinear etapas de um projeto, passam a observar, indagar, questionar, formular hipóteses, criar expectativas, previsões, possibilidades, confrontos, e espaço de abertura ao imprevisível de uma perspectiva projetual, ao encontro e relação direta com o pensamento das crianças.

Pré-figuração de contexto, no Centro Internacional Loris Malaguzzi
Pré-figuração de contexto, no Centro Internacional Loris Malaguzzi

Assim como a documentação pedagógica, a progettazione também é construída no processo de cada experiência ou percurso investigativo, a partir de um campo previsional, e não de temas superficialmente detectados pelos adultos, mas estudados, por meio de pré-figurações e relançamentos, que comprovam e dialogam com as hipóteses, conceitos e teorias mais subjetivas das crianças. Por exemplo, temas como fundo do mar, dinossauros, espaço, insetos, transportes, animais etc. passam a ser campos previsionais muito mais superficiais, delineamentos que buscam maior profundidade conceitual: o que este tema nos convida a investigar? Por que há encanto? Quais as transversalidades possíveis? Que caminhos seguir? Quais os conceitos que as crianças estão buscando se aproximar? Que sentidos querem construir? O que o tema representa às crianças? Quais os significados implícitos? Quais os relançamentos possíveis?
Ao longo deste processo, a visibilidade da aprendizagem é garantida e comunicada por meio da prática reflexiva e permanente da documentação pedagógica que retroalimenta a projetação a medida em que o educador passa a enxergar perspectivas com maior clareza, encontra algumas respostas, mas faz ainda mais perguntas, além de se avaliar e refletir sobre sua própria prática, acompanhando o progresso intelectual de cada estudante.
Relançamento provocativo em turma de 4/5 anos na Escola Concept
Relançamento provocativo estruturado por educadoras de turma de 4/5 anos na Escola Concept

Sendo assim, a progettazione nasce com o sentido de criar um contexto compartilhado, apoiando na construção de habilidades e competências das crianças, mas não de uma forma unificada, mas por meio da qualificação de um pensamento divergente que dá voz à própria interpretação. Isso significa que requer aprofundamento teórico. As crianças compartilham a responsabilidade da aprendizagem com os adultos, e a investigação é realizada por um pequeno grupo de crianças, por vezes por toda a turma e ocasionalmente por uma criança individualmente. Os momentos comuns e as experiências cotidianas na sala de aula são dignos de investigação, mas nem sempre precisam levar a um projeto abrangente e de longo prazo.
É fundamental apoiar-se na teoria e na documentação para aprofundar os campos previsionais a fim de entender a complexidade do pensamento poético e subjetivo das crianças

Carla Rinaldi (1995) descreve progettazione como “uma estratégia, uma prática diária de observação-interpretação-documentação” (p. 206). Moss (2005) descreve-a como uma “abordagem flexível” que “não tem lugar para resultados predeterminados e progressão linear, mas uma abertura para o pensamento novo e inesperado por crianças e adultos (p. 27).
Por fim, cabe finalizar que é necessário, metaforicamente falando, ouvir as crianças com o corpo todo, e estar aberto ao imprevisível. Afinal, se você “ficar de lado por um tempo e deixar espaço para o aprendizado, observar atentamente o que as crianças fazem e, se você tiver entendido bem, talvez o ensino seja diferente de antes” (Malaguzzi, 1998, p. 82).

About the Author

A autora do site é nascida na cidade São Paulo, e o Curso Normal/ Magistério foi a primeira opção na área docente antes do ingresso na faculdade de Letras da USP, onde concluiu a dupla habilitação português/ alemão em parceria com a EDUSP. Em seguida, cursando pedagogia e a primeira especialização em Moralidade e Relações Interpessoais na Escola, a formação continuada prosseguiu como uma premissa maior, com cursos como Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Psicomotricidade e especializações como Bilinguismo e Educação Infantil. Atualmente, também é mestra em Ciências da Educação. Paralelamente, atuou continuamente na Educação Infantil, onde se estabeleceu há mais de 20 anos, assumindo diversas funções até atuar na diretoria de segmento. Também ofereceu diversos cursos e formação por meio de assessoria pedagógica especializada, é ávida leitora, apaixonada pela experiência educativa de Reggio Emilia e considera-se uma eterna aprendiz, seja em contextos locais ou internacionais.

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