Em Reggio Emilia, inspiradora cidade ao norte da Itália, um termo usado para apoiar as práticas pedagógicas curriculares que denota uma estratégia pedagógica cotidiana é progettazione, ou seja, “projetar para os próximos passos, para o futuro”. Sendo assim, embora ela apoie a pensamento projetual, não podemos simplesmente traduzir o termo por “metodologia por projeto” (ou PBL, em inglês). Há, no entanto, uma estreita relação com os princípios criativos do Design Thinking e até de Futures Thinking.
Assim, é uma estratégia de trabalho pela qual os educadores, mais do que “planejar” de modo linear e previsível um acontecimento ou sessão, ou delinear etapas de um projeto, passam a observar, indagar, questionar, formular hipóteses, criar expectativas, previsões, possibilidades, confrontos, e espaço de abertura ao imprevisível de uma perspectiva projetual, ao encontro e relação direta com o pensamento das crianças.
Assim como a documentação pedagógica, a progettazione também é construída no processo de cada experiência ou percurso investigativo, a partir de um campo previsional, e não de temas superficialmente detectados pelos adultos, mas estudados, por meio de pré-figurações e relançamentos, que comprovam e dialogam com as hipóteses, conceitos e teorias mais subjetivas das crianças. Por exemplo, temas como fundo do mar, dinossauros, espaço, insetos, transportes, animais etc. passam a ser campos previsionais muito mais superficiais, delineamentos que buscam maior profundidade conceitual: o que este tema nos convida a investigar? Por que há encanto? Quais as transversalidades possíveis? Que caminhos seguir? Quais os conceitos que as crianças estão buscando se aproximar? Que sentidos querem construir? O que o tema representa às crianças? Quais os significados implícitos? Quais os relançamentos possíveis?
Ao longo deste processo, a visibilidade da aprendizagem é garantida e comunicada por meio da prática reflexiva e permanente da documentação pedagógica que retroalimenta a projetação a medida em que o educador passa a enxergar perspectivas com maior clareza, encontra algumas respostas, mas faz ainda mais perguntas, além de se avaliar e refletir sobre sua própria prática, acompanhando o progresso intelectual de cada estudante.
Sendo assim, a progettazione nasce com o sentido de criar um contexto compartilhado, apoiando na construção de habilidades e competências das crianças, mas não de uma forma unificada, mas por meio da qualificação de um pensamento divergente que dá voz à própria interpretação. Isso significa que requer aprofundamento teórico. As crianças compartilham a responsabilidade da aprendizagem com os adultos, e a investigação é realizada por um pequeno grupo de crianças, por vezes por toda a turma e ocasionalmente por uma criança individualmente. Os momentos comuns e as experiências cotidianas na sala de aula são dignos de investigação, mas nem sempre precisam levar a um projeto abrangente e de longo prazo.
Carla Rinaldi (1995) descreve progettazione como “uma estratégia, uma prática diária de observação-interpretação-documentação” (p. 206). Moss (2005) descreve-a como uma “abordagem flexível” que “não tem lugar para resultados predeterminados e progressão linear, mas uma abertura para o pensamento novo e inesperado por crianças e adultos (p. 27).
Por fim, cabe finalizar que é necessário, metaforicamente falando, ouvir as crianças com o corpo todo, e estar aberto ao imprevisível. Afinal, se você “ficar de lado por um tempo e deixar espaço para o aprendizado, observar atentamente o que as crianças fazem e, se você tiver entendido bem, talvez o ensino seja diferente de antes” (Malaguzzi, 1998, p. 82).