Há inúmeros benefícios ao oferecermos uma Educação Infantil de qualidade, com educadores pesquisadores, que buscam educar com intencionalidade, para a emancipação social. Foi-se o tempo em que o papel da escola de Educação Infantil resumia-se a suprir necessidades assistencialistas.
Devemos pensar que a qualificação docente implica em poder oferecer conflitos cognitivos e desafios que nossa casa não pode proporcionar. Filmes? Apostilas? Em casa podemos ter.
E sim, a vida social traz, necessariamente, ganhos, mas, para muitos pais, as conquistas podem vir acobertadas de suposto sofrimento. Sim, porque não há na vida conquistas sem esforço, e para os pequenos não é diferente.
A criança chora, um esforço, mas aprende que tudo fica bem, que seu círculo de confiança se ampliou.
A criança se suja, e nós, educadores, preferimos dizer que são experiências sensoriais altamente necessárias para novas conexões neuronais.
A criança cai, mas aprende sobre seus limites e possibilidades corporais.
A nossa família protege, a escola, como bem disse Rubem Alves, dá asas, porque liberta.
E os educadores devem criar desafios. Por exemplo, modificam um espaço, como um ateliê. Não mais oferecemos os famosos desenhos prontos para serem repetidamente preenchidos, as cartilhas e fonemas que são isoladamente repetidos, as decorações temáticas.
Isso pode ser feito em casa. Na escola, educadores estudam para dar sentido à experiência escolar, para provocar reflexões e novas conexões, extensões de pensamento, relançamentos potentes. Porque aprender é mais do que repetir, é ser desafiado, é aplicar algo em novo contexto, é vivenciar com o corpo inteiro, com múltiplas linguagens, em um mundo que mudou, que não é mais o mesmo de nossa infância, e exige que tenhamos contínua capacidade de escuta ativa para compreender a perspectiva de nossas crianças.
Mas, para isso, não devemos desejar apenas que nossas crianças reproduzam velhas experiências que tivemos. Se quisermos novas conquistas, precisamos de novas experiências.
A escola é local de encontro cotidiano, ela jamais poderá ser substituída, mas renovada. Ela nos possibilita criar um ambiente menos confuso na relação com o corpo, com os outros e esteticamente agradável. Mas isso não quer dizer “decorada”.
Sim, porque acolhe educadores atentos que organizam materiais com coerência e ética, que utilizam instrumentos como a luz, a suspensão da cor que nos permite ver as características do papel, por exemplo. As crianças não “desenham por desenhar” ou “desenham para ficar bonito”. Aprendem a experimentar até fazer suas escolhas criteriosas.
E sim, os educadores estão em constante aprendizado, estão em formação, porque nem todos ainda têm o privilégio do espaço do reconhecimento, do espaço inovador. E essa trajetória pessoal deve ser respeitada.
Na Educação Infantil, ao brincar com a simplicidade material, como rolinhos de papel, educadores estão buscando enfatizar, ainda que não coloquem sofisticação nas palavras, as qualidades estruturais, como as formas tridimensionais, sobreposições, planos, estruturas verticais, colunas de papel, estáveis, deformáveis, reversíveis, texturizados etc.
Não é só brincar por brincar, tudo tem uma intencionalidade.
Ao pesquisar, as crianças aumentam seu conhecimento sobre a matéria, e como essa, por exemplo, seja o rolo de papel sobre o qual falamos ou uma simples folha de papel (natural, artificial, absorvente etc.), entra em relação com a luz natural ou artificial.
Em grupos menores, as crianças podem perceber a utilização física da matéria, se ela é sonora, se há uma abordagem polissensorial, se há gestos diferentes para entrar em relação e interrogar aquele material.
Não se trata de explorar somente, escola infantil é local de pesquisa!
Enfim, para a neurociência, o corpo e mente são inseparáveis. Por isso, as crianças, mais do que nós, adultos, são capazes de descobrir mapas e tipologias das matérias, analogias e diferenças. Não é perda de tempo registrar o que elas dizem e fazem.
Elas nos comunicam a importância de parar, de se concentrar, de escutar as qualidades de um material.
Aprendemos sobre a atitude de dar valor às coisas que geralmente não damos valor.
E a escola segue ofertando uma gama de materiais ricos, simples, de largo alcance, geralmente não comercializados.
E as crianças, nossas mestras, apresentam gestos que indagam sobre o ponto científico das coisas, no fio daquilo que pesquisam.
E que todo educador da primeira infância, seja qual for seu passo nessa trajetória, sinta-se valorizado, visto e aplaudido na sua missão de disseminar a pesquisa e cultura, podendo cada vez mais dar voz às nossas crianças.