Piaget e o desenvolvimento da linguagem

Pedagogia e infância

A linguagem é uma das condições de socialização de nossa existência e marca um momento decisivo da infância, sendo a Educação Infantil um local privilegiado para a promoção de situações comunicativas. Segundo Piaget (1942), há uma estreita ligação entre a linguagem e o pensamento, que a precede. A formação do pensamento em termos de representação conceitual caminha paralelamente ao desenvolvimento da linguagem. Ambos os processos estão vinculados a uma função mais geral, que é a semiótica ou simbólica. A aquisição da linguagem não é suficiente para a aquisição das estruturas operatórias, pois depende de outras condições maturacionais.

A educação infantil oferece oportunidades únicas para o desenvolvimento da linguagem
A educação infantil oferece oportunidades únicas para o desenvolvimento da linguagem

Podemos perceber as primeiras ações exploratórias e intencionais da criança, quando, por exemplo, começa a tentar encaixar as pecinhas de madeira, obtendo insucessos e êxitos que a fazem frustrar-se, mas persistir em suas descobertas. E o que tais experiências práticas proporcionadas na escola têm a ver com a linguagem? Tudo!

Piaget constatou a existência de uma lógica de coordenação das ações, já que a inteligência sensório-motora precede linguagem. A origem das operações lógicas encontra-se nas coordenações gerais da ação que controlam todas as atividades dos pequeninos, inclusive a linguagem.  Esta linguagem, por sua vez, é condição necessária na construção das estruturas lógicas elementares, mas não é condição suficiente, pois a verbalização por si só não explica a aquisição das operações. Contudo, cada vez que o educador promove rodas comunicativas, desde o maternal, fala com a criança de modo claro, sem subestimar sua inteligência, valendo-se de vocabulário e literatura de qualidade, auxilia não somente na linguagem, mas diretamente na construção de lógica, de argumentação e conhecimento de mundo. Infantilização da fala, com uso de diminutivos, por exemplo, indicam uma postura que compreende a criança como um ser menos capaz, inteligente, o que não é verdade.

O ambiente estimulante garante operações mentais, interações e desenvolvimento linguístico
O ambiente estimulante garante operações mentais, interações e consequente desenvolvimento linguístico

A interação e o desenvolvimento da linguagem retratam uma aprendizagem significativa de acordo com as ofertas do meio, daí a necessidade da qualidade das interações e da solicitação do meio. Mesmo os pequeninos sem linguagem verbal, comunicam-se e respondem, por exemplo, com gestos, palmas, sorrisos e avançam na sucessão dos estágios de desenvolvimento. Muitas vezes, as crianças, para verbalizarem alguma função cognitiva, elas se apropriam de outros meios, e não apenas da linguagem para se justificarem.

Leitura de qualidade, boa interlocução dos pares e educadores garante desenvolvimento cognitivo e linguístico
Leitura de qualidade, boa interlocução dos pares e educadores dá condições para o desenvolvimento cognitivo e linguístico

A linguagem não funciona simplesmente como uma propulsora da evolução operacional, mas sim, como um instrumento a serviço da própria inteligência, ou seja, é a estruturação cognitiva que permite a estruturação da linguagem e não o inverso. Desta forma, o ambiente deve ser estimulante, repleto de experiências com materiais diversificados, problemas de lógica adequados à faixa etária e interlocutores experientes para ampliar os repertórios de mundo dos pequenos.

Para Piaget, a utilização correta da linguagem depende do desenvolvimento da inteligência da criança, portanto, temos que estimular a expressão emocional, corporal e social da criança para favorecer o desenvolvimento de sua inteligência, por meio de sua exploração, observação, experimentação, manipulação de objetos, interrelações.

Crianças desenvolvem sua linguagem com seus pares
Crianças desenvolvem sua linguagem com seus pares

Se a linguagem desempenha um papel importante na formação do pensamento e é uma das manifestações da função semiótica, ou melhor, do faz-de-conta, temos então que criar situações para que a criança manifeste seu pensamento por intermédio da imitação, dos jogos simbólicos, de criações artísticas. Por isso, teatros, tecidos, fantoches, dramatizações, fantasias, objetos não estruturados, tudo pode auxiliar na imaginação. O desenvolvimento da linguagem ocupa cada vez mais um papel importante na educação infantil, priorizando muito as propostas de dramatização, expressão corporal e criações artísticas.

Enfim, pais e educadores, falem com seus pequenos, e estimule-os cognitivamente, relevando sua incrível inteligência prática que tanto nos ensina a nos comunicar e compreender a vida, muito além da oralidade.

About the Author

A autora do site é nascida na cidade São Paulo, e o Curso Normal/ Magistério foi a primeira opção na área docente antes do ingresso na faculdade de Letras da USP, onde concluiu a dupla habilitação português/ alemão em parceria com a EDUSP. Em seguida, cursando pedagogia e a primeira especialização em Moralidade e Relações Interpessoais na Escola, a formação continuada prosseguiu como uma premissa maior, com cursos como Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Psicomotricidade e especializações como Bilinguismo e Educação Infantil. Atualmente, também é mestra em Ciências da Educação. Paralelamente, atuou continuamente na Educação Infantil, onde se estabeleceu há mais de 20 anos, assumindo diversas funções até atuar na diretoria de segmento. Também ofereceu diversos cursos e formação por meio de assessoria pedagógica especializada, é ávida leitora, apaixonada pela experiência educativa de Reggio Emilia e considera-se uma eterna aprendiz, seja em contextos locais ou internacionais.

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