Sobre a ótica: luz, cores, sombra, reflexo e transparência



Muitos se perguntam: por que trabalhar com ótica e perspectiva na infância? Luzes, cores, reflexos… qual a importância destes estímulos?
Bem, para responder, vamos nos lembrar de que a criança transcende a obviedade, subverte a ordem, faz arte que transforma. Luz é ingrediente, matéria, o corpo é tela,  transparência é provisória. A criança capta perspectivas de translucidez, reversibilidade, transposição. Sem medo de enfrentar sua própria transparência, entrega-se vulnerável a ela, vendo por frestas, fendas, transformando e brincando com o visível e invisível. Transparente pode ser cor. Pode ser poesia. Basta imaginar, basta ser criança.

 

Criança se sente fascinada pela luz

Embaixo de uma árvore frondosa, por exemplo, pode-se explorar a luz natural, por meio de um território criativo e comunitário. Porque é meu, é delas, é seu, é nosso. É um lugar de ser e estar no mundo. Costumamos oferecer aos pequeninos, abrigos de luz! Sim, educadoras conectadas com a infância, que entendem que a sombra é um espectro rarefeito, que se desprende do ser, formando um primeiro pigmento de desenho mágico e indelével. E como é bom brincar com sombras! Abrigos que trazem conforto emocional, abrigo da luz móvel e estática, protege e convida ao carinho do vento.

Sombra artificial é facilmente explorada com papéis, tecidos e painéis

Lembro-me de encontros conectivos que educadoras promoveram bem aqui pertinho, e que podem e provavelmente acontecem em cantos bem intencionados de todo Brasil, regados a música, movimento, magia, bolhas de sabão!
Papais, mamães, vovós, familiares e educadores podem confeccionar abrigos com materialidades reversíveis e trazer as crianças para grandes encontros com a Natureza de celebração e valorização da infância. Juntos, acreditamos nas potências das linguagens infantis!

O espaço natural também pode ser planejado pelas educadoras e crianças

Temos dito que preparar espaços é um ato solidário, de descentração em favor da emancipação do outro. É promover o encontro de múltiplas linguagens e experiências cognitivas e afetivas. É conectar-se de forma potente consigo mesmo, oferecendo palco para o terceiro educador e um dos seus protagonistas: o ambiente e a criança. E sim, para este ambiente, muitos reflexos, luzes e cores. Afinal, a vida tem suas nuances próprias.

Projetores e elementos favoráveis ao desenvolvimento de explorações

Outra sugestão interessante é a mesa de vidro, que pode ser utilizada na Educação Infantil como instrumento de aprofundamento visual e analítico. Contrastes, seleção, transparência, sinestesia e perspectiva são algumas das características que podem ser focadas. Enquanto documentam o processo, as professoras favorecem a exploração sensorial de elementos coletados de diferentes origens, variando as perspectivas visuais e táteis que aproximam as crianças às suas propriedades, exercitando óticas.

Mesa de vidro como exercício de perspectivas

E o que falar dos espelhos? Ora, são intrumentos de autoconhecimento, autorretratos sem lápis, moldura do nosso íntimo e, para os pequenos, objeto mágico capaz de multiplicar perspectivas e até mesmo a própria existência. Puro mistério, é disso as crianças gostam. Espelhos transformam e revelam, são amigos das cores, transformam perspectivas. E não são só eles que refletem!

Espelhos podem refletir em diferentes planos

Podemos ainda investigar as óticas das cores, seus reflexos, as luzes, de muitas formas sutis e elaboradas. É interessante que os ambientes da Educação Infantil envolvam a experiência estética da visibilidade, modulação da intensidade ótica e transparência das peças. Luz é poesia, envolve forma, movimento e sensações. É uma exploração afetiva, resultando na construção de aprendizados. Por isso, explorações variadas favorecem a experiência lúdica dos pequenos com contrastes e até reversibilidade, à medida em que as crianças testam resultados provisórios de reflexos no espelho, transparência e modificação das formas geométricas e incidência da luz do projetor e de mangueiras luminosas.

Mangueira luminosas podem ser testes de reações criativas

E para modular e investigar a luz artificial, temos também a famosa mesa de luz, além de tantos itens complementares, como leds, neons, mangueiras, luminárias, que podem ser combinados com transparências, caixas, radiografias. O trabalho com luzes influencia na percepção da criança sobre o tempo, espaço e na sua perspectiva corporal. As dimensões da exploração transcendem o plano da previsibilidade. Como já dissemos, a sombra que se forma é uma espécie de desenho móvel na infância, uma projeção quase que sinestésica, e a artificialidade também nos auxilia e perceber seus processos de produção, modulação, intensidade, calor, idas e vindas, interrupção, tonicidade.

Mesa de luz é um precioso recurso investigativo

As luzes evocam planos imaginários na concretude de dimensões móveis e sobrepostas, numa arte que é provisória, relativa e se transforma.  A modulação, percepção, transformação, letargia, visibilidade, a experiência estética e a sensação da passagem do tempo são alguns dos aspectos que podem ser trabalhados, num ambiente criativo especialmente preparado para crianças e familiares, dando continuidade a contextos investigativos prévios.

 

Recursos diversos podem ser introduzidos na infância

Enfim, a luz é atrativa, é lúdica, é pura poesia. Ela oscila ou é contínua, é intensa ou indireta, ela sugere formas, movimentos e até sensações, as queridas sombras, formas e reflexos. E nas transparências, um tempo subjetivo. Há muito o que aprender e explorar nesse contraste de cores, que tem sido utilizadas para encantar desde os mais pequeninos, há muitas gerações!

About the Author

A autora do site é nascida na cidade São Paulo, e o Curso Normal/ Magistério foi a primeira opção na área docente antes do ingresso na faculdade de Letras da USP, onde concluiu a dupla habilitação português/ alemão em parceria com a EDUSP. Em seguida, cursando pedagogia e a primeira especialização em Moralidade e Relações Interpessoais na Escola, a formação continuada prosseguiu como uma premissa maior, com cursos como Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Psicomotricidade e especializações como Bilinguismo e Educação Infantil. Atualmente, também é mestra em Ciências da Educação. Paralelamente, atuou continuamente na Educação Infantil, onde se estabeleceu há mais de 20 anos, assumindo diversas funções até atuar na diretoria de segmento. Também ofereceu diversos cursos e formação por meio de assessoria pedagógica especializada, é ávida leitora, apaixonada pela experiência educativa de Reggio Emilia e considera-se uma eterna aprendiz, seja em contextos locais ou internacionais.

3 Comments

  1. amazonas 7 years ago
  2. Ladonna 7 years ago
  3. Caixa de papelão 6 years ago

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