Texto de João Luiz Silva da Rosa
Todos os dias surgem novas vidas, algumas planejadas e outras inesperadas, mas o nascimento de um bebê pode ser considerado uma festa, uma inauguração de esperança, de afeto e vitalidade. Sem amor os processos de desenvolvimento dos bebês podem vir a ser prejudicados, a precariedade do afeto e dos cuidados básicos acarretam em traumas, entre outros aspectos na regulação das emoções e agressividade.
As atividades ligadas à proteção e cotidiano de qualquer bebê, fazem parte do que podemos classificar como cuidado, mas, para cuidar precisamos de ética no manejo e ações, sem cair no viés de um cuidado empobrecido, atenção básica e de afeto. Irei abordar a importância de considerar um bebê sujeito dentro das instituições que atendem bebês e crianças bem pequenas, no contexto creche.
Trabalhar com os bebês é entender as suas sutilezas, muitas vezes abraçadas em complexas ações, o cuidado precisa prevalecer no toque, no gesto e nas palavras que o educador partilha com os bebês.
Não basta apenas estudar as teorias, é preciso sentir, pulsar e qualificar os nossos espaços para acolher os bebês em suas individualidades, e cada criança que chega até a nós, é um ponto de interrogação, de desbravamento e de muita riqueza.
Mudar as ações dos adultos, não somente verbalmente, mas concretamente, requer estudos e acima de tudo uma qualificação em nossas concepções de infâncias, vínculos, construindo um ambiente educacional para a vivência vivida.
Estabelecendo encontros, experiências colaborativas, acolhimento, liberdade, mas o afeto como grande condutor das práticas pedagógicas com bebês e crianças no contexto de vida.
Ao cuidar e educar uma criança, levamos-na a manifestar posturas autônomas, criando hábitos e capacidade de realizar sozinha algumas ações, promovendo múltiplas aprendizagens.
Quando se realiza a atividade do cuidar sem intencionalidade, perdem-se ótimas oportunidades de se educar.
Precisamos entender que cuidar e educar, é viver ao lado das crianças, construindo um sentido e significado para essa fusão tão forte, intensa, mas viva.
Não podemos projetar os ditos “rituais de sofrimento” naturalizando essas ações e acreditando que precisamos ofertar apenas o básico para bebês e crianças pequenas no contexto de vida.
Conclusão: Os bons relacionamentos entre educador e bebê começam na forma que esse adulto recebe os meninos e as meninas na Instituição, a postura desse educador ao acolher demonstra o seu entendimento sobre o real sentido de acolher o outro.
As emoções são nossos guias para a ação no cotidiano, representam o direcionamento para nos aproximarmos ou nos afastarmos de algo e isso acontece principalmente com os bebês.
Uma criança que não é bem recebida pelo educador obviamente irá sentir um desconforto, choro e até mesmo não terá uma conexão com esse adulto, afinal, ela não foi bem quista pelo mesmo, mas quando o relacionamento é abraçado por interações confortáveis, educador e bebê estão ampliando o córtex pré-frontal do bebê, ajudando no desenvolvimento e interações sociais.
O papel do educador na vida dos bebês é de grande importância, sendo que este muitas vezes passa uma jornada diária de 8 horas na creche, por isso, ressalto a importância do vínculo, respeito e estudos no campo dos bebês.
Sabemos que em alguns casos a procura por trabalhar na creche está associada ao gostar de bebês ou simplesmente cuidar, atrelado ao sentido de assistencialismo, tanto que a forma como muitos educadores se enxerga é como “tia” ou “tio”, precisando urgentemente serem legitimados como professores de bebês.
Em algumas instituições de atendimento os critérios para se trabalhar com bebês são os mais precários possíveis, não sendo necessário ter formação específica na área, bastando ser mulher e gostar de crianças. Este é um movimento de reflexão constante nos principais documentos norteadores da Educação Infantil, além da grande desvalorização da sociedade e em muitos casos salarial, jornada extensa de trabalho, condições precárias de trabalho, entre outros aspectos.
No entanto, ao trabalhar com os bebês, o adulto precisa entender sobre os bebês, estudar, pesquisar, observar e estar junto, conhecendo suas potências e singularidades.
Sobre o autor colaborador:
Professor João Luiz Silva da Rosa
Mestre em educação na linha de pesquisa estudo das infâncias, Pedagogo, Psicopedagogo Institucional, especialista em promoção do desenvolvimento infantil, psicanalista clínico com foco no desenvolvimento dos bebês e crianças bem pequenas, conselheiro do COMDICA (Conselho municipal da criança e adolescente – Alvorada/RS), autor do livro Por infâncias vivas e vividas (Editora Pedro e João). Escreveu um capítulo no livro Formações de Narizinho, uma experiência de formação continuada (Editora Pedro e João), colaborador do livro História de quem faz Educação – da universidade ao chão da escola (V&V editores), colaborador do livro Qualidade na Educação infantil (V&V editores), assessor pedagógico, professor convidado do Centro Incluir Educacional (Porto Alegre/RS), colaborador da Comunidade Brincar, pesquisador sobre o desenvolvimento infantil, importância do brincar, culturas infantis, psicanálise dos bebês inspirados em Melanie Klein e Winnicott.