O movimento na primeira infância está diretamente relacionado à percepção do corpo em relação ao meio e ao desenvolvimento de uma imagem positiva de si, já que envolve superação de desafios e obstáculos, transpondo os próprios limites de forma motivadora. O professor de movimento da primeira infância, ou na ausência deste, o polivalente, deve ter foco na ampliação de possibilidades expressivas e habilidades motoras de coordenação e equilíbrio, manipulação de diversos materiais, expressão corporal pelo ritmo e movimento, afinal, movimentar-se é viver, ser feliz, e alegria é marca registrada da infância. Muito além da integração e desenvolvimento de projetos e sequência didáticas interdisciplinares que ampliam o conhecimento de mundo a partir da contextualização de fatos da atualidade como Olimpíadas, Copa do Mundo, entre outros, a criança precisa acessar sua realidade local e imediata de forma cotidiana.
Que tal uma corrida, uma amarelinha e muitos jogos para movimentar o corpo? Os pequenos não têm dúvida: movimento é coisa séria, prazerosa e importante! O professor da Educação Infantil só tem a lucrar com a identificação especial dos pequenos pelo movimento, seja em terra ou em água. Rastejar, rolar, engatinhar são atividades humanas fundamentais para, por exemplo, garantir o posterior refinamento motor.
O trabalho de incentivo à cultura corporal foca com frequência as brincadeiras tradicionais como a amarelinha, peteca, corda e arco/ bambolê, que trabalham com aspectos físicos e culturais muito importantes, além de abrir portas para uma vida mais saudável em termos físicos e sociais. Nas brincadeiras tradicionais, várias habilidades motoras são trabalhadas: a locomoção, o equilíbrio e a manipulação, como no caso da peteca e do bambolê.
São brincadeiras que nascem em uma sociedade, são enriquecidas por sua cultura e seus significados. Um dos aspectos importantes dessa prática é a ampliação do universo cultural desde a primeira infância, estabelecendo uma consciência com relação aos valores da própria identidade. O brincar na vida humana está ligado a cada organização social, com suas características e necessidades próprias, condicionando um tipo diferente de expressão.
Brincadeiras tradicionais são também um desafio construtivo para os pequenos. Daremos aqui o simples exemplo da amarelinha, que exige coordenar movimentos bilaterais, como pular num pé, pular em dois, sustentando peso, mantendo ritmo e equilíbrio. Além disso, não existe uma única forma correta de se brincar. Mesmo sendo uma brincadeira tradicional, sua forma de acontecer se multiplica com o passar do tempo e das gerações. Quando uma criança pula amarelinha, ela conhece um modelo, uma forma de brincar, mas vários outros modelos vão sendo criados por ela e surgem outras maneiras de pular, rompendo paradigmas e convenções sociais. Criando a criança pensa, interage com colegas e aplica conhecimentos já interiorizados.
E criatividade é o que não falta no cotidiano escolar dos pequenos, que embutem personagens nas suas brincadeiras de pega-pega, corrida, fazendo com que surjam bruxas, lobos e caçadores. As crianças começam a direcionar e vivenciar a brincadeira, usando vários repertórios previamente conhecidos. Elas iniciam uma participação regulada e intencionada, com as regras delas, e o professor deve também escutar e dar espaço para as novidades e invenções, afinal, movimento também é prazer e descoberta.
Dar acesso às brincadeiras tradicionais é ingressar na cultura de vários povos e várias origens. Essas brincadeiras proporcionam sentimentos que, muitas vezes, os jogos e brincadeiras eletrônicos não proporcionam. O importante é não ficarmos num único foco, precisamos diversificar, dar vazão a várias propostas. Entender, afinal, que a vida é dinâmica e, como ela, a criança não deve ser impedida de se movimentar e, consequentemente, aprender.