Escolhendo uma escola de Educação Infantil

LOGO PEDAGOGIA E INFÂNCIA

Muitos pais se questionam sobre receitas de como escolher a melhor escola para seus filhos pequenos. Em verdade, não há escola perfeita. A família deve escolher aquela que mais atenda às suas necessidade sócio-culturais, bem como filosofia de vida, apresentando princípios e valores relacionados aos praticados em casa.

A única afirmação que podemos fazer, e já expressa em artigo relacionado, é que criança deve permanecer com criança, por isso, nada substitui as experiências escolares precoces, com a interação social junto a seus pares equivalentes, resoluções de conflitos, impulsão rumo à autonomia moral e intelectual, bem como estímulos cognitivos, motores, emocionais e sensoriais.

Contudo, mesmo sem receitas, e sendo esta escolha uma experiência única para cada família, existem alguns pontos de atenção que podem ser observados. Por exemplo, esta escola vale o tempo de transporte? Deve-se pensar, muitas vezes, na localização da escola, e não da residência, já que a escola, se bem escolhida, pode ser um local onde a criança permanecerá da primeira infância ao final da adolescência. Outro aspecto a se pensar é nas prioridades. Por vezes, a família opta por idiomas, esportes, atividades extracurriculares, mas será que isso realmente é necessário e desejável à criança? Vale pensar se as expectativas dos pais por vezes não são demasiadas.

Professora e suas relações
A escola traz benefícios sociais e emocionais muito além dos conteúdos

Existem pontos menos objetivos que também podem ser analisados. Por exemplo: os professores desta instituição são bem preparados, estudam continuamente? E talvez o mais importante de tudo: são valorizados, felizes, havendo pouca rotatividade? Já ouvi de uma mãe educadora, procurando escola ao filho de menos de um ano, que o critério da escola para ser “tia” na escola era o fato de a maioria ser “mãe”, já que nesta faixa etária o estudo não seria necessário. Penso que poucas vezes ouvi tamanho absurdo. Em verdade, se o critério para lecionar fosse a maternidade, as escolas perderiam a maior parte de sua função técnico-educativa. E, comprovadamente, nesta faixa etária é que os pequenos desenvolvem grande parte de sua personalidade moral e intelectual, abrindo, com a notável expansão sináptica, as grandes janelas de oportunidade cognitiva, sendo os modelos referências diretas na sua constituição como sujeitos e cidadãos.

Desenho cultivado na infância criativa
Desenho cultivado na infância criativa

Enfim, vale observar, também, como andam as paredes da escola. E não estou dizendo de sua limpeza. Pouco importa se o local é grande, pequeno, moderno, repleto de recursos. Importa saber se a educação é levada a sério. Ambientes estéreis, sem cara de criança, denotam uma visão de infância frágil, e podem dar pistas de instituição demasiadamente assistencialista, por mais que higiene seja um fator fundamental. Por outro lado, escolas repleta de desenhos prontos, feitos pelos adultos e, na pior das hipóteses, com muros e paredes com desenhos infantilizados, às vezes até daquelas personagens famosas, retratam uma visão equivocada e adultocêntrica de infância pouco produtiva e criativa. Já escolas que estampam percursos de autoria nas paredes, com produções criativas dos pequenos, evidenciando marcas de protagonismo infantil, com materiais inusitados, não estruturados, que sabe reutilizar materialidades criativamente, podem merecer atenção especial nesta escolha que não é nada fácil.

Relação professor-aluno deve ser pautado na reciprocidade
Relação professor-aluno deve ser pautado na reciprocidade

Outro aspecto a prestar atenção: a escola transparece alegria? Cores, sabores, texturas, cheiros, sons, fazeres significativos? As crianças parecem sentir-se conectadas ao espaço, apresentam semblante leve, espontâneo? A escola tem segurança quanto ao processo de adaptação? Conhece como as crianças aprendem e se relacionam? Acolhe os pais e vê importância na participação deles agregando sentido e parceria à ação educativa? Por outro lado, priorizam agradar os pais ou atender às crianças? Preste atenção a este ponto pois, se seu pequeno estudar na escola, não desejará que lhe digam equivocadamente que seu filho comeu somente para você sair satisfeito, ou que prefiram atender um pai a atender sua criança.

Outro aspecto que mereceria reflexão é sobre como a escola escolhida  avalia o desenvolvimento dessas crianças. Ela ouve suas vozes, legitima suas linguagens por meio de documentação pedagogógica que resulta, por exemplo, em relatórios individuais e processuais? Conhece a faixa etária, expectativas de aprendizagem, sem rotular? Ou, por conveniência e padronização, recorre a múltipla-escolha para avaliar as crianças, naquilo que chamamos de “vir a ser”, sem reconhecer o ser que a criança já é, suas potencialidades e dificuldades?

Como andam as autorias das paredes da escola?
Como andam as autorias das paredes da escola?

Para finalizar, dentre tantos outro fatores, eu observaria como a escola resolve os conflitos entre os pequenos, já que esta ação é bastante reveladora e aponta sua conduta moral. Coloca as crianças de castigo, reforçando a heteronomia e o autoritarismo? Ou pior: pune e recompensa como forma de controle comportamental? Ou, ao contrário, reconhece os conflitos como oportunidade saudável de aprendizado, mediando e legitimando pontos de vista, valorizando o processo e não necessariamente a resolução em si?

Enfim, são múltiplas e variadas visões. Dificilmente a escola escolhida terá todos os pontos citados acima, ou a família concordará com todos, já que existem linhas pedagógicas distintas, bem como prioridades a serem atendidas em cada família. Mas, o mais importante, é que se reflita sobre estes aspectos e observe-se quais são as verdadeiras prioridades. Esta, de fato, é uma das decisões mais importantes e determinantes da vida da criança, que vai refletir por toda sua existência. É o maior e um dos mais potentes investimentos que os pais podem fazer.

Propostas da educação infantil devem ser estimulantes e planejadas
Propostas da educação infantil devem ser estimulantes e planejadas

E, por fim, cabe dizer: é uma a decisão, e esta é uma das poucas e principais, que cabe somente aos pais. As crianças geralmente optam pelo mais divertido, mais colorido e, como já sabemos, não é aparência que garante uma boa escola, e a adaptação dos pequeninos é gradativa, portanto, nada de experiências com seu pequeno. Força e coragem, cabe a vocês, pais, a responsabilidade nesta especial decisão.

 

About the Author

A autora do site é nascida na cidade São Paulo, e o Curso Normal/ Magistério foi a primeira opção na área docente antes do ingresso na faculdade de Letras da USP, onde concluiu a dupla habilitação português/ alemão em parceria com a EDUSP. Em seguida, cursando pedagogia e a primeira especialização em Moralidade e Relações Interpessoais na Escola, a formação continuada prosseguiu como uma premissa maior, com cursos como Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Psicomotricidade e especializações como Bilinguismo e Educação Infantil. Atualmente, também é mestra em Ciências da Educação. Paralelamente, atuou continuamente na Educação Infantil, onde se estabeleceu há mais de 20 anos, assumindo diversas funções até atuar na diretoria de segmento. Também ofereceu diversos cursos e formação por meio de assessoria pedagógica especializada, é ávida leitora, apaixonada pela experiência educativa de Reggio Emilia e considera-se uma eterna aprendiz, seja em contextos locais ou internacionais.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *