A criança é naturalmente curiosa. A natureza, as materialidades cotidianas, os objetos na escola, os alimentos, enfim, tudo pode despertar curiosidade e oferecer possibilidade de as crianças experimentarem sensações e percepções diferenciadas. A criança tem muitas linguagens, usa e experimenta todos os sentidos (tato, olfato, visão, audição, paladar). Na infância, os pequeninos misturam, colam, comparam, transformam elementos, tudo fruto de sua capacidade sensório-investigativa, uma inteligência prática, sensorial, motora, intuitiva. Portanto, tais propostas não podem faltar desde o maternal, para que eduquemos e repertoriemos todo o corpo, todos os sentidos, e todas as linguagens da infância. Sensações evocam lembranças que, por sua vez, evocam emoções que, enfim, nos remetem a sentimentos. Se bem vivenciadas, essas sensações podem ser muito proveitosas e indeléveis.
As crianças arriscam-se em interessantes experimentações, pois oferecemos vivências em que a observação e a investigação permeiam as descobertas convencionais. Os sentidos nos aproximam e nos causam sensações tanto físicas, quanto emocionais, por isso são tão importantes. E os pequeninos, inevitavelmente, fazem, sentem e produzem com todo o corpo. A criança põe sua essência em tudo o que vivencia, é um ser sensível, dotado de sensibilidade tátil, auditiva, visual, enfim, sinestésica. É importante que as crianças possam experimentar diferentes sensações. Elas podem iniciar suas composições escolhendo recursos, como suportes, cores, pincéis, marcadores gráficos ou outros elementos para suas produções, tanto quanto for possível, utilizando sua criatividade, sem a interferência no educador, que por vezes insiste em limitar espaços e oferecendo desenhos prontos para colorirem.
Outras vezes, as crianças podem usar seu próprio corpo como instrumento de criação artística, fazendo experiências sensoriais e vivenciando o resultado estético na sua imagem, bem como na dos colegas ou professoras. Isto quer dizer que a descoberta dos materiais pode ser vivenciada primeiramente no corpo, depois nos próprios materiais, manipulando cada elemento, sentindo suas propriedades e características, misturando e observando o que acontece por trás da transformações físicas dos objetos, sem os padrões e tendências sociais pré-determinadas. É importante que valorizemos essa atitude artistico-investigativa da criança para que descubra e arrisque-se na ampliação de conhecimento de mundo.
As crianças devem ter o direto de fruir, apreciar e produzir arte de forma criativa e lúdica. Ainda que inicialmente haja uma aversão, uma defensividade tátil que deve ser considerada e respeitada, introduzindo-se então intermediários entre as misturas e o suporte, como pincéis ou plásticos; as crianças aos poucos se familiarizam com as sensações trazidas pela materialidade que desvenda um mundo de texturas, prazer e sensações.
Consequentemente, esse oferecimento valoriza o amplo movimento corporal infantil. São experiências estéticas que produzem efeitos plásticos e sinestésicos ao mesmo tempo que oportunizam vivências motoras, afetivas e sociais. A entrega do educador a essas propostas é inevitável. Por vezes, o seu silêncio é importante, pois as crianças buscam suas próprias inspirações e compreensões processuais.