Já falamos muito sobre a importância de se incentivar todas as linguagens, de forma que parece até uma redundância. Mas, em verdade, nunca é demais falar sobre isso. A arte é uma espécie de laboratório que valoriza a expressividade e a criatividade de cada uma e de todas as crianças. É uma fonte de autoconhecimento, autoexpressão do grupo, incluindo o professor. A escola de Educação Infantil que não trabalha o pensamento criativo verdadeiramente, não tem alma. Muito além do conceito restrito e tradicional de “sala de artes”, o ateliê é uma metáfora da infância! Aliás, o termo artes visuais que se utiliza tão usualmente nas escolas, por si só já é um equívoco. Como poderia a arte estimular um único sentido: a visão? Estaria aí implícita a ideia de que a arte só deve ser contemplada, nunca vivenciada, sentida? A arte é expressão, se faz com o corpo todo. Ela é visual sim, mas é gestual, sonora, intuitiva, emocional… E por aí vai! Falamos de uma única Arte!
A arte possibilita a manifestação de todas as linguagens, incluindo a estética e a imaginativa. É uma necessidade vital e um direito de todos. Não dá para restringir esse direito a uma aula de artes visuais, em uma sala de artes, uma ou duas vezes por semana. Ou pior, restringir às crianças, meros desenhos estereotipados, prontos, para colorir, na vã ideia de que assim trabalharão sua motricidade. A perda é infinitamente maior! Ainda temos as tradicionais e pouco reflexivas “atividades” de, por exemplo, treino, releitura, silhuetas adultas ou outros atividades que se fazem simplesmente por que há anos dão certo. E não ousamos, não nos superamos, não conhecemos as potencialidades da infância. E o pior: não desenvolvemos o pensamento criativo, simplesmente por não sairmos da caixa ou não nos questionarmos se verdadeiramente desejamos crianças ativas cognitivamente. As propostas, ao contrário, devem analisadas no seu processo, traços, movimentos, intervenções da própria criança na evolução de seus esforços.
E temos também muitas vezes na Educação Infantil a figura do professor especialista de Artes Visuais, a quem preferimos chamar de atelierista ou professor de Arte, pelos motivos que já explicitamos. Contudo, este profissional habilitado deve ser um articulador, um mediador das práticas pedagógicas, dos projetos de interesse, dos subsídios curriculares transversais, interligando conhecimentos interdisciplinares e os fazendo acender por meio da arte, relacionando-a à sala de aula do mundo. E não, ao contrário, atuando isoladamente, em aulas que nenhuma relação têm com o que é desenvolvido em sala, ou aquilo que verdadeiramente interessa à turma. Por isso, a escola e o ateliê dever ser espaços dialógicos e de intercâmbio constante.
O ateliê deve ser local de diversidade de materiais, uma desorganização organizada, um espaço democrático, um ambiente de relações, um local de garantia da ocorrência da criatividade e teorias interpretativas. Podemos dizer, ainda, que na Educação Infantil, pequeno ou grande, fechado ou aberto, o ateliê se faz, pois ele é um lugar central, que dialoga e se conecta com todos os outros espaços, é um espaço nobre de aprendizagem, nem que na menor das escolas ele seja um cantinho artístico, ou uma mesa itinerante de possibilidades instigantes. Aliás, o Ateliê é um espaço versátil e reversível, pois ele sai de si mesmo! Sim, ele se transporta para outros espaços da escola, criando contextos de aprendizagem significativa. E, por tanta Arte, exploração, vida e aprendizado, as crianças saem sim “sujas” da escola. Mamães reclamam sem perceber que, ao invés de sujeira, sua criança traz marcas criativas para casa, sinais de que está vivendo a infância.
Enfim, o Ateliê contribui para dar visibilidade à escuta e à documentação dos processos de aprendizagem de adultos e crianças. Enfim, o ateliê é local de pesquisa e formação expressiva, pois dialoga com a cultura contemporânea e com a realidade externa. Pense e reflita: como anda o arte na sua escola?