Sabemos que é na Educação Infantil que a criança desenvolve de modo intenso as primeiras ferramentas para o convívio social, tem as primeiras noções de valores morais e também, por meio de atividades apropriadas, aprimora suas capacidades cognitivas e motoras.
Desta forma, podemos seguramente afirmar que o destino de uma sociedade está diretamente ligado aos valores priorizados por seus cidadãos.
Valores que começam a ser formados desde que nascemos e passam a ser mais fortemente assimilados por volta dos 4 anos, quando a criança começa a compreender o universo das regras morais e literalmente desperta para o senso moral.
Podemos perceber o quanto a Educação Infantil é importante na construção dos valores morais, fazendo um paralelo com a realidade do mundo social.
É muito comum, em vários momentos, que se observe como crianças entram em contato com diversas situações construtivas. Para trabalhar com as diversidades, os professores reflexivos planejam, organizam, redirecionam e avaliam as situações e propostas, pois o processo não ocorre, tampouco se cessa necessariamente em uma aula com dia e horário previamente estabelecido. O trabalho e a vivência efetiva dos valores decorre de ocasiões que surgem ao acaso em nosso dia a dia, como um flagrante, disputas de brinquedos, escolha entre pares, divergências nas brincadeiras, entre outros, ou de ocasiões já previstas na proposta pedagógica. Desde jogos, avaliações, trabalhos sistematizados e resoluções de conflitos são preciosas oportunidades de se trabalhar valores. A diferença é a maneira como o educador encaminha e valoriza tais situações.
Neste universo coletivo, pôde-se perceber o quanto as crianças também vivenciam muitas situações que favorecem a experiência da colaboração, a manifestação da afetividade e também de conflitos cognitivos, morais e sociais.
As regras e os princípios morais só são construídos no decorrer de seu desenvolvimento, experiências e das interações da criança, e tal construção é determinada pelas trocas que as crianças estabelecem com o meio, seja ele familiar, escolar ou social – assim, tornam-se privilegiadas quando entram desde cedo em um universo social dinâmico e construtivo como uma Educação Infantil de qualidade.
E por que trabalhar valores? A reflexão é antiga: na última década, desde o Século XX, aflorou-se a preocupação de teóricos e educadores no sentido de se aprofundarem em discussões sobre a moral.
Segundo Jean Piaget, estudioso biólogo suíço, “toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras” (1032/1977, pág. 11). Acredita também que é da afetividade que surgem os valores. Em outras palavras, o investimento afetivo que a criança realiza nas trocas interpessoais se traduz por uma valorização às pessoas, a si próprio e às ações realizadas.
E o que isso tem a ver com os nossas pequeninas crianças? Ora, de acordo com essa perspectiva, o mais importante não é se a criança obedece às ordens dos professores e adultos, ou cumpre as regras da classe ou do grupo, mas o porquê as cumpre. Como educadores reflexivos que pensamos ser, não desejamos que a criança obedeça as regras apenas quando o adulto está presente ou só para conseguir a sua aprovação, ou ainda por medo de perder o seu amor. Desejamos, ao contrário, que ela vá se conscientizando sobre a necessidade de existir determinadas normas nas relações entre as pessoas, que realmente acredite a importância de seguir alguns valores morais, como por si e pelos outros. Assim, no dia a dia, observa-se em escolas de ambiente sócio-moral reflexivo e contributivo, as professoras construindo regras com as crianças, ou seja, combinados significativos, não arbitrários, que por essas características respeitam a perspectiva infantil: “Eu sei que se correr na classe pode cair, por isso, aqui não pode, é melhor no parque!” – diz um pequenino de três anos, orgulhoso, apontando o cartaz dos combinados.
O maternal, como ambiente escolar, é também muito rico no movimento para resgatar e construir valores junto às nossas crianças. São alguns exemplos os jogos, brincadeiras e também a hora da roda, a qual a professora tem como uma grande aliada para percepções e também para exercitar uma escuta ativa para guiar este processo. Este momento dá grande oportunidade de conversas, trocas de pontos de vista e também de manifestações de agrados, contrariedades, sentimentos e emoções. As crianças menores vivenciam estas situações por meio da descoberta de si próprias, do movimento e da pura curiosidade em conhecer o mundo que as cerca, satisfazendo as suas indagações, vontades e explorando todos os sentidos.
Por exemplo, no nosso cotidiano, quando solicitamos às crianças nos conflitos saudáveis, que nos digam como poderiam ter resolvido o problema sem bater, morder, ou o que tenham feito, estamos favorecendo aquela reconstituição das ações que foram físicas num patamar agora mental, dando oportunidade e permitindo às nossas crianças estabelecer comparações e tomar decisões.
Outro exemplo comum são as histórias infantis (contos, poemas, fábulas…), que representam grandes ferramentas em benefício à construção da moral, pois as crianças conseguem transpor os acontecimentos das histórias para o seu cotidiano escolar e familiar.
Virtudes como honra, honestidade, coragem, fidelidade, amizade, também devem ser estimuladas e exploradas para que nossas crianças percebam que estes valores devem estar presentes em todos os momentos da vida.
Em síntese, podemos assentir que educamos em valores quando as crianças, desde a mais tenra idade, se fazem entender e entendem os demais colegas; aprendem a respeitar e a escutar os outros; aprendem a serem solidários, a serem tolerantes, a trabalhar em grupo, a compartilhar ou socializar o que sabem, a ganhar e a perder, a tomar decisões, resolver conflitos interpessoais etc. E esse é um longo processo, que se inicia na Educação Infantil, não ouvindo ordens do educador, mas vivenciando, discutindo e resolvendo impasses cotidianos. Enfim, este é um dos caminhos da educação de valores: ajudar os pequenos a se desenvolverem como pessoas mais humanas e tornar possível, visível ou real, o desenvolvimento harmonioso de todas as qualidades e linguagens da infância, as quais reconhecemos e autenticamos, desde os seus primeiros passos.