“O brincar é o fazer em si, um fazer que requer tempo e espaço próprios; um fazer que se constitui de experiências culturais, que é universal e próprio da saúde, porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo (a criança) e com os outros”. (WINNICOTT, 1975, p.63).
Se falamos de ouvir as crianças e suas múltiplas linguagens, o brincar é uma das formas mais plenas que os pequenos encontram de se fazerem ouvir. Pelo brincar, a criança se faz presente com todos os seus sentidos e forças, como num grito de independência e veracidade, numa linguagem universal.
O Ministério da Educação e do Desporto, com a intenção de auxiliar os educadores de Educação Infantil e formalizar as diretrizes deste ensino, elaborou os Referenciais Curriculares Nacionais (R.C.N), que apresenta diversas áreas do conhecimento, além das vertentes que devem estruturar o ensino dos pequeninos. Porém, o que poucos pais sabem é que os R.C.N´s asseguram e dão ampla importância ao direito de que toda criança tem de viver experiências através dos jogos e brincadeiras, representandos pelo eixo do brincar, diretamente ligado ao educar (ação pedagógica consciente e consistente) e o cuidar (amparo físico, social e emocional).
Como sabemos, o brincar não é apenas uma diversão. Na hora da brincadeira, as crianças se desenvolvem física e intelectualmente, destacando-se como indivíduos, que estabelecem o convívio social, ampliam a linguagem oral, estimulam sua criatividade, constituem identidade e que tomam iniciativas próprias, desenvolvendo, ainda que progressivamente, sua autonomia e formando-se integralmente. Por meio de experimentações e representações simbólicas (faz-de-conta), recriam o mundo em que vivem, compreendem e interpretam à sua maneira a realidade, estruturando sua capacidade de abstração.
Assim, ir à escola compreende educar, cuidar e, certamente, o brincar, seja este planejado ou espontâneo, em que o educador intervém construtivamente, levando em consideração o que alguns renomados teóricos e estudiosos há tempos nos colocam. Sabemos que o brincar está diretamente relacionado aos âmbitos da autonomia e da identidade, por isso, o momento em que a criança pode escolher livremente com quem, com o que brincar, num espaço e tempo intencionalmente organizado, com desafios cognitivos e objetos diversificados, lhe proporcionará mais e mais construção social e simbólica. Nesse sentido, é importante a professora considerar a introdução não apenas de brinquedos prontos e de uma única categoria (ex. pelúcias, eletrônicos), mas oferecer materialidades diferenciadas, incluindo elementos da natureza e reciclados, com o quais a criança pode exercitar a capacidade de atribuição de novos sentidos e significações.
Para VYGOTSKY (1988) o brincar é a etapa mais importante da vida infantil e propicia a criação da situação imaginária, o desenvolvimento da representação, o símbolo, que diferencia o brincar animal e humano. Segundo ele, pelo brincar, o educando reproduz o discurso externo e o internaliza, construindo seu próprio pensamento.
Já PIAGET (1978) entende o brincar como fator de desenvolvimento cognitivo e forma de adequação ao mundo externo, um aspecto ativo, agradável e interativo do desenvolvimento intelectual.
WINNICOTT (1975, p.61), concede ao ato de brincar além de uma busca de prazer uma forma de lidar com a angústia.
BETTELHEIM (1988, p.168), afirma que brincar é muito importante porque, enquanto estimula o desenvolvimento intelectual da criança, também ensina os hábitos necessários ao seu crescimento.
Para FREUD (1976), na teoria psicanalítica, o brincar tem a função de sublimação, reduzindo as tensões nascidas da impossibilidade de realizar os desejos.
Assim, independentemente da abordagem, é consenso que o brincar é uma necessidade da criança, que produz história pelo contato com o repertório cultural e social que encontra nas brincadeiras e, ainda, é uma forma de colocar-se no mundo, realizar operações mentais cada vez mais complexas, fazer abstrações, agir colaborativamente, compreender suas emoções, resolver situações-problemas, enfim, desenvolver-se integralmente. Não é à toa que, na escola, as crianças brincam sim! E muito! E vamos deixar suas vozes ecoarem enquanto sua brincadeira se faz tão presente.