Muitas famílias têm esta pergunta latente, afinal, colocar a criança na escola implica em colocá-la em contato com riscos físicos, já que a imunidade ainda está baixa, principalmente aquelas em idade maternal. E, ainda, não é sempre que a família sente esta necessidade, já que, em alguns casos, existe a possibilidade de a mamãe, vovó ou até cuidadora, olharem e entreterem a criança na própria residência. Motivo mais do que justo, correto? Depende!
Em minha visão, a criança deve ficar em casa quando realmente há motivos bem específicos para isso apenas, tais como questões relevantes de saúde ou impossibilidade de administrar a rotina temporariamente. No mais, não há ambiente que reproduza aquele vivenciado na instituição escolar. E quanto à resistência, sim, a escola é um local em que a criança certamente ficará doentinha, mas desenvolverá anticorpos suficientes para se preparar para muito mais desafios do que se ficar reclusa.
Já ouvi mães argumentando sobre babás ou vovós que tinham a formação pedagógica e que, por isso, era melhor e mais seguro deixá-las em casa. Ledo engano. A escola é uma instância social, um núcleo de socialização extrafamiliar e esta vivência longe das amarras de casa ninguém ensina, somente se aprende vivenciando à distância. Aprende a ser sociável, socializando-se. Não com adultos, mas com pares equivalentes, na mesma condição de aluno. Os irmãos, embora sejam preciosas oportunidades interativas e aprendizagem privilegiada para o resto da vida, estão no seio familiar, e não substituem os desafios nada convencionais que um coleguinha impõe. Os conflitos existem e sempre existirão, e são vistos como boas oportunidades de aprendizado.
Estudos demonstram o quão significativa é a capacidade de uma criança pequena aprender, em um ambiente repleto de estímulos sensoriais, sociais, cognitivos. E não adianta, em casa os estímulos são importantes, mas são diferentes. A expansão e conectividade sináptica, no auge, fazem com que esta criança, sensível ao aprendizado, abra literalmente as janelas de oportunidade de aprendizado na primeira infância, assimilando informações com naturalidade e maestria. A escola é um espaço naturalmente rico em texturas, odores, sabores, paisagens, sons, ou seja, é sinestesicamente estimulante.
Algumas características, como pensamento intuitivo, não reversível, centrado, além da inteligência prática, fazem com que os educadores planejem propostas adequadas à faixa etária, com desafios cognitivos à altura, numa linguagem elaborada, desenvolvendo projetos de interesse, sequências didáticas, de fomento à leitura, trabalhando com todos os sentidos e desenvolvendo o pensamento criativo. Ao menos, é o que se espera das escolas de Educação Infantil! De qualquer modo, existem lições implícitas em todo cotidiano escolar, como a própria capacidade de simbolizar (faz-de-conta) e o jogo imitativo, que faz com que a aprendizagem torne-se muito mais significativa ao perceber seus colegas executando alguma ação de referência. O fato de as crianças também conviverem com diferentes personalidades e características, mudarem de realidade e serem incentivadas em sua autonomia intelectual e moral, já faz da Educação Infantil um espaço privilegiado e uma escolha muito importante.
É muito perceptível, ao longo do maternal, quais as crianças que foram estimuladas em anos anteriores a participarem de uma rotina flexível, conviverem com colegas, dividirem seus pertences, resolver situações-problema, comunicar-se a partir de diferentes estratégias, daquelas que estão ingressando tardiamente. A adaptação pode ser um pouquinho dolorida sim, por isso a denominamos de fase de acolhimento intenso, mas sim, valerá muito a pena! Pense nisso!