Quem é esta criança com quem nos relacionamos, afinal?
“Um dos pontos fundamentais da filosofia de Reggio é a imagem de uma criança que experimenta o mundo, que se sente parte dele desde o seu nascimento, cheia de curiosidade e de vontade de viver. Uma criança que está cheia do desejo e da habilidade de comunicar-se desde o início de sua vida, completamente capaz de criar mapas para a orientação pessoal, social, cognitiva, afetiva e simbólica. Por tudo isso, a criança age em um sistema competente em habilidades, aprendendo as estratégias e as maneiras de organizar as relações” – RINALDI, Carla
Nesta perspectiva, ou seja, levando-se em consideração a filosofia implícita na prática pedagógica de Reggio Emilia, pequena cidade ao norte da Itália, não existe, portanto, uma infância natural ou universal, mas sim, existem muitas infâncias diferentes. Deste modo, uma boa infância seria aquela em que ela é reconhecida e promovida. E para isso, o nosso papel de educadores tem extrema valia na promoção de condições adequadas para um desenvolvimento adequado e salutar.
A criança nasce com as capacidades para aprender, não necessita perguntar nem ter a permissão do adulto para começar a aprender. A aprendizagem é uma atividade cooperativa e comunicativa, na qual os pequenos são agentes ativos que constroem o conhecimento, o compromisso, e também (re)criam significados do mundo, em conjunto com os adultos e, de igual importância, com outras crianças.
É missão da instituição educativa proporcionar um local onde crianças e adultos se reúnam para construir juntos conhecimento e cultura. Esta imagem promove entendimento de que o pequeno aluno tem voz própria e é um ator social, que toma parte na construção e na determinação de sua vida, mas também na vida daqueles que se encontram ao seu redor e na sociedade em que vive.
A criança tem ideias, saberes e muitas linguagens para autoexpressão – CEM LINGUAGENS – não há somente a linguagem artística, apesar desta ter grande destaque. O projeto trabalha valores através da linguagem sonora, gráfica, gestual, pictórica, auditiva, visual, tátil, relacional etc. Em Reggio, e não deveria ser somente lá, já que é possível inspirar-se fortemente nesta premissa, a criança é feita de “cem”, cabe à escola promover condições para que as cem linguagens se manifestem. O pensamento é uma linguagem da infância que não separa a dimensão da experiência. As cem linguagens (metáfora) são disponibilidades que se transformam e multiplicam. Não existe o conceito das CEM LINGUAGENS sem a ESCUTA ATIVA (indissociáveis).
Por ter cem linguagens, a criança precisa da ESCUTA ATIVA do adulto, para que este compreenda suas formas genuínas e sensíveis de expressão. Escuta é um ato de amor. Escuta-se com o corpo todo, com todos os sentidos. É ter disponibilidade para o outro, que me completa, significando colocar o valor e o centro da aprendizagem na própria criança. Pode se escutar no silêncio, no pensamento, na pesquisa. A pedagogia da escuta cria um contexto permanente de escuta, demanda um professor competente. Escutar é verbo ativo! É uma forma desafiadora de linguagem. Ouve-se com o corpo todo. Eleva a sensibilidade com relação aos cenários culturais. Ela é premissa e contexto de relação, que alimenta a reflexão. O significado não está no que dizemos, mas no que eu podemos escutar.
Enfim, a escuta legitima o outro, dá vida ao seu pensamento. Trata-se de uma entrega, um ato de comprometer-se com o outro, um exercício de ouvir, ser ouvido e abrir-se a novas linguagens.
Para que as cem linguagens sejam verdadeiramente percebidas e para que a escuta ativa seja exercitada, necessita-se um professor atento, curioso, investigador, que atribui muitos cenários de aprendizagem. Mais do que nunca, ele precisa aprender com a criança, com a família, com os colegas.
Esse sábio professor sabe, mas tem a humildade de compreender que aprende a cada instante, erra, está aberto, nunca para de estudar, pois o conhecimento é imprevisível e provisório. Reflete sobre hipóteses, sem antecipar-se. Dialoga com cada criança e com todas, acolhendo suas diferenças, aceitando-as. Fortalece as relações do seu grupo e tem noção da responsabilidade de seu papel. Erra e tem defeitos, porque é humano. Mas acima de tudo, busca ser melhor a cada dia.
Obrigado…Eu amo seu post obrigado.