Podemos dizer que na Educação Infantil, o professor educa e constantemente se educa. E a criança? Também! Mas, além dos sujeitos envolvidos neste processo educativo dinâmico, o ambiente é também um educador, por isso deve ser idealizado, acolhedor, favorecer a abordagem ativa e participativa. Não é porque não conta com muitos recursos que a sua dimensão estética não deve ser atentada. Costumo dizer que devemos preparar a escola para as crianças como se preparássemos nossa casa para recebermos a mais importante visita. Espaço físico é só um espaço, mas se transforma em ambiente quando há relações de cumplicidade, de respeito concretizadas. Há de se estabelecer vínculo com o espaço, há de se relacionar intimamente com ele, transformando-o num ecossistema, para então, termos verdadeiramente ambientes interativos concebidos.
É bem interessante, baseadas em modelos educativos italianos, quando as escolas celebram momentos de Encontro. E esses Encontros não se referem apenas às celebrações e eventos. O grande encontro precisa ser diário. É o educador que interage com a família, com a criança, e as relações tomam vida e forma. A escola não como espaço impessoal, mas como sentimento de pertença, como espaço de convívio. Ver através do vidro, além dos muros da escola, sabendo que a criança não está presa num mundo isolado, mas faz parte da sala de aula do mundo. Na saída e entrada, celebram-se encontros, as pessoas saúdam-se como numa “piazza (praça) central”, num ambiente de convivência, com bancos, livros, afinal, a escola também é da criança. E, em todos os momentos, devemos escutá-la, perceber se suas vozes estão ecoando neste ambiente.
Ambientes devem ser organizados de forma interconectada. Como dissemos, o espaço é apenas um aspecto do ambiente, composto por relações. Ele interage, modifica-se, toma forma de acordo com projetos de interesse, sequências investigativas, projetações e experiências, num diálogo constante entre a arquitetura e a pedagogia.
O cuidado estético (locais, objetos) é um ato educativo que gera bem-estar psicológico, senso de familiaridade, gosto estético e prazer em habitar. Novamente, o investimento em recursos onerosos não é necessário, mas sim, sensibilidade estética, cuidado e atenção a detalhes. A segurança é uma qualidade gerada pela elaboração compartilhada entre os diferentes profissionais que devem avaliar tanto a prevenção do risco quanto a riqueza e qualidade das possibilidades oferecidas.
Luzes, cores, texturas, cheiros, atmosfera, decoração, materiais etc. são critérios para a qualidade do ambiente. São modos de interagir e de dialogar com diferentes realidades e contextos! Materiais diversificados, desafios, beleza, sonoridade, iluminação, tudo pode compor, cada detalhe num dia, uma surpresa para nosso ambiente, que tanto nos educa e acolhe. Planejado com cuidado e afeto, garante-se a dimensão estética, que é indispensável, pois é neste ambiente que se celebram diariamente os encontros cognitivos e afetivos entre educadores, pais e crianças.
E não é porque o educador organiza o ambiente afetivamente para seus alunos que ele deve fazer tudo por ele. Muito pelo contrário. A partir do momento que o aluno faz parte dele, a autoria é legitimada, seu fazer é respeitado, bem como sua obra intencional, e as intervenções passam a ter um papel atento e criterioso, pois a arte da criança é subjetiva, criativa, inteligente e não segue padrões tendenciosos, devendo ser observada, respeitada e aceita como tal. As crianças também podem opinar sobre as organizações, estéticas, decorações, ornamentos, e produzir boa parcela da arte local.
Aos poucos, os espaços de convivência se convertem em ambientes que nos ensinam sobre a consciência dos modos e significados da educação. As crianças podem colocar sua perspectiva na escola, decorá-la, escolher adornos, embutir marcas de identidade que trazem marcas de sua história e legitimam a infância e sua perspectiva.
Identidade é um direito-dever da criança e o ambiente pode ser um grande e educador para que ela se garanta. Para que o professor tenha condições de favorecê-la, deve educar-se, enfim, refletir nas ações cotidianas, nas práticas reflexivas de observação, no encontro de debate e planejamento e na prática de documentação pedagógica.
Enfim, o ambiente diz muito sobre nossa concepção e entendimento de educação e criança. Desenhos prontos, reproduções ampliadas de desenhos animados que anunciam uma escola de Educação Infantil, escola asséptica e sem traços infantis, desenhos sem autoria, produções idênticas… Será que nossas crianças realmente apreciam isso? Ou será que podem produzir, fruir e apreciar muito mais?
Será sua escola um espaço físico? Ou um ambiente em que vozes ecoam por toda escola? 🙂
Kathê, que orgulho de você! Sempre estudiosa e generosa, pois compartilha seu conhecimento…
Apreciando essas matérias, senti uma grande vontade de fazer parte de tudo isso novamente.
Obrigada por me acordar!
Sempre no meu coração e nas minhas melhores lembranças.
Beijo carinhoso
Querida Rita
Que surpresa grande ouvir de você de você! Bom saber que continua, além de gentil, interessada na infância. Espero poder ainda trocar muito, compartilhar e aprender com você. Fique à vontade para sugerir, você será sempre bem-vinda por aqui. Saudades grandes, Katherine