Ultimamente temos ouvido de modo recorrente em algumas instituições de ensino a ideia de criança como protagonista. E o que isso quer dizer? Estaria esta criança minimizando o papel do educador? Ou seria este mais um modismo educativo? Nada disso!
O conceito de protagonista está diretamente relacionado à imagem de criança competente, cidadã e portadora de direitos. Protagonista porque ela é crítica, tem ideias, confronta a realidade, não segue simplesmente um manual do que ela deve “vir a ser”. Ela é protagonista pois elabora teorias provisórias. É, de certo modo, “incômoda”, pois expressa seu ponto de vista, produz mudanças e desestabiliza seu entorno, e não somente segue diretrizes, padrões e receitas.
Ela é sujeito de sua história, aprende e ensina, produz cultura. Ela é dotada de potencialidades e de recursos afetivos, relacionais, sensoriais que se explicitam numa troca com o contexto social e cultural. Ser uma criança protagonista é ser dona de uma infância que merece muito mais do que cuidados e proteção. A criança aprende utilizando os cinco sentidos, todo o corpo, e todas as suas linguagens.
E quando ela não é protagonista? Aí, tragicamente, tem sua imaginação e criatividade interrompidas por rotinas inflexíveis, conteúdos pré-estabelecidos, atividades massificantes, estereótipos, infantilização da própria infância ou aceleração de um tempo irrecuperável. Colocamos como que uma maquiagem prejudicial nas crianças, padronizando-as como adultos em miniaturas, ou como seres frágeis, incapazes de atuarem com alguma independência. É a sala de aula contém desenhos pré-concebidos, exercícios padronizados, enfim, pretende implicitamente deixar claro que quem é o único protagonista é o professor e a criança, um mero coadjuvante passivo.
Nós, ao contrário, não queremos este tipo de criança acuada, passiva, queremos dar margem ao seu potencial incrível. Dar espaço ao protagonismo é saber que a criança estabelece relações e diálogo com seu tempo e espaço, constrói significados e conhecimentos no seu mundo. A criança já é cidadã é portadora de direitos, atua social e civilmente. Tem necessidades e características físicas, morais e afetivas, tendo o DIREITO de ser considerada em sua singularidade, valorizada nos próprios tempos de desenvolvimento. Deve ser respeitada independentemente de sua cultura, podendo construir novos direitos. Ela é portadora de sensibilidade ecológica, pois é sensível transforma e se transforma no ambiente que a cerca. A criança protagonista é, afinal, ela mesma. E é respeitada como tal. Com todas as suas forças potentes e legitimidade.