Conhecer o vasto mundo em que vivemos é um longo processo que implica em investigar as complexas relações entre o homem e a natureza, maneiras pelas quais o meio se transforma e como nos utilizamos de sua cultura e recursos. O meio, dentre muitas coisas, é também representado pela variedade de objetos que as crianças dispõem tanto em casa quanto na escola, além dos outros ambientes que fazem parte de seu contexto social e cultural. Além disso, as relações estabelecidas consigo, com o entorno e com os demais à sua volta são preciosas ferramentas para a aprendizagem.
Há tanto o que aprender, tocar, sentir, questionar… E espírito investigativo é o que não falta às crianças pequenas! Na faixa etária delas, é necessário propiciar situações de aprendizagem em que aquilo que veem possa ser compreendido por intermédio de informações e experiências que não são necessariamente visíveis na vivência cotidiana. E para isso, além de um planejamento cuidadoso, materialidades e recursos diferenciados e profissionais em constante atualização, é importante que as deixemos agir e brincar efetivamente, lançando seu olhar curioso e perspicaz sobre a origem dos fatos: “Professora, como voa o avião?”, “Eu sou um mamífero?”, “Por que os caracóis só aparecem quando chove?”, “Por que os insetos são tão pequenos?”, “Princesas existem de verdade?”, “A cobra é má?” etc. O professor necessita ser exercitado para saber propor boas perguntas e não oferecer respostas prontas mas sim, que instiguem as crianças a questionarem mais e mais. Boas perguntas, em verdade, admitem muitas respostas, pois consideram o raciocínio e a lógica individual. Crianças não pensam como adultos, constroem lógica própria, têm perspectiva singular que é desenvolvida com olhos atentos, mãos curiosas, e inúmeras linguagens sensíveis. Crianças são seres naturalmente construtores de cultura, seres lúdicos e históricos, investigativos e científicos por natureza.
Nos diferentes espaços, nas diferentes salas de uma escola, surgem os mais variados projetos e sequências investigativa! E, desde cedo, se bem mediadas pelos educadores, documentam, levantam saberes, confrontam, verificam suas hipóteses, avaliam, como num processo científico vinculado à prática por toda a Educação Infantil, desde a conquista da fala no “caçula” do maternal até o criterioso pensamento simbólico do “veterano”!
Mas como sabem tanto? Como descobrem certas informações tão específicas, às vezes tão complexas? Saber algo não é mera recepção e repetição de determinada informação, mas é agir sobre ela, interpretá-la, transformá-la e relacioná-la a outros conhecimentos, dar sentido e função àquilo que se conhece.
Aquele simples passeio envolve mais do que observação, mas aprendizado por meio do olhar curioso da criança, que busca respostas e encontra, no calor da ação, ora uma resposta, ora novos questionamentos. É um processo de construção interna através do acesso às fontes de pesquisa incentivadas pela escola, no qual as crianças refletem e pensam sobre o que desejam conhecer, constroem suas próprias hipóteses diante da realidade e, gradativamente, reformulam enquanto interagem e trocam seus conhecimentos prévios, verificando suas conquistas.
Puxa, mas quanta complexidade! Não necessariamente, já que, com afeto e envolvimento emocional, há muita motivação vinculada à aprendizagem… E há o que chamamos de tratamento lúdico que se dá ao processo ensino-aprendizagem, é o tom simbólico que muitas vezes o professor utiliza como precioso recurso pedagógico para tornar o processo ainda mais dinâmico. E sabemos, ainda, que o professor também é aprendente, se surpreende e aprende significativamente enquanto documenta e observa as descobertas de suas crianças. E este professor acompanha o processo com sua escuta ativa e afetiva, que ouve as crianças com todo sentido e intencionalidade, sabendo que nenhuma ação é isolada.
As descobertas e construções dos pequenos são resultado de um processo investigativo de aprendizagem, que constituem registros reflexivos e percursos individuais com perspectiva coletiva. E é por isso que cada sala deve ter uma “carinha diferente” e, ao longo do ano, adquire uma identidade única, também construída na experiência criativa de seus pequenos componentes, de seus grandiosos cientistas. Afinal, como por trás de toda boa construção arquitetônica há um cuidadoso projeto, nossas crianças também constroem de acordo com as informações sobre a natureza do solo que erguerá sua construção, focalizando suas estruturas. Esses pontos representariam a curiosidade infantil, “porquês” do mundo, da essência da vida! Vivendo o hoje, nossas crianças coletam imprescindíveis dados que “projetam” o amanhã!