Como dar voz às crianças e exercitar nossa escuta?
A reflexão sobre os métodos de escutar as crianças tem significado uma nova apreciação do que significa escutar. Isto tem nos conduzido a contemplar e explorar as múltiplas formas de ouvi-las, maneiras variadas que utilizam mecanismos internos e externos, e as complexidades, tanto sociais quanto políticas, em torno da escuta. No cerne dessas deliberações está a teoria das “cem linguagens das crianças”, de Loris Malaguzzi, que nos oferece um entendimento mais aprofundo sobre a escuta como uma “cultura e como uma abordagem de vida”.
O compromisso de escutar as crianças e consultá-las é fundamental para se pensar, desenvolver e praticar o currículo nos ambientes escolares. Deve-se garantir que suas vozes, opiniões e entendimentos sejam ouvidos e tornados mais visíveis, a fim de que os adultos ajam de maneira mais adequada. As crianças têm o direito de serem ouvidas e têm coisas importantes a nos dizer e nos contar, mas, como adultos, precisamos de capacidade para entender as mensagens que as crianças transmitem. Um método de escutar adequadamente as crianças inclui profundos entendimentos sobre:
- Como as crianças aprendem e constroem significados
- A incrível capacidade e potencial das crianças
- Nós mesmos, como aprendizes adultos, e nossas interações com as crianças e uns com os outros
- A importância cultural da família e da comunidade
- A ciência sobre suas Cem Linguagens
Afinal, o que são as Cem Linguagens?
Este aprofundamento se dá através de princípios orientadores específicos, como:
- Respeito aos direitos das crianças
A criança tem o direito fundamental de ser ouvida e de ter suas opiniões consideradas. Devemos entender e demonstrar na prática, por exemplo, a Convenção sobre os Direitos da Criança da Org. das Nações Unidas:
- Adultos capazes de ouvir e responder
As crianças nos dão informações de várias formas diferentes, sendo importante garantir modos de apoiá-las a demonstrarem seus pontos de vista e aprendermos modos diferentes de “escutá-las”, isto é, ouvir atentamente e observar reações e respostas, considerando a ação apropriada visível, que pode ser registrada, compartilhada, discutida e examinada. Também devemos confrontar relações de poder entre crianças e adultos.
- Crianças como participantes
Encorajar a escolha oferece oportunidades para a independência e interdependência; oferece tempo para pensar, para interagir, se relacionar e estabelecer conexões. Isto significa reconhecer que uma ampla série de oportunidades devem estar disponíveis para apoiar a participação das crianças.
- Crianças como agentes ativos
Significa colocá-las no centro do processo, garantindo que estejam totalmente envolvidas no planejamento e na revisão de sua aprendizagem juntamente com os educadores, se envolvendo em conversas importantes, de modo a estender ideias e pontos de vista.
- Crianças como construtoras de significado
Escutar as crianças nos proporciona insights e entendimentos de como concentrar nossa atenção nos modos como as crianças extraem sentido no mundo, estabelecem conexões, desenvolvem teorias, constroem hipóteses. Observando suas linguagens e praticando a escuta ativa, entendemos que elas se envolvem natural e ativamente na busca de sentido e, assim fazendo, estão em processo de construção de significado.
- Crianças como coconstrutoras da aprendizagem
Quando educadores conduzem diretamente a aprendizagem da criança, novos entendimentos são atingidos de fato, porém, incluem aqueles de que a hipótese do adulto sobre o que as crianças estão aprendendo pode não ser a aprendizagem experimentada pela criança. Os métodos e as abordagens que defendem que as crianças estejam no centro de sua própria aprendizagem pretendem que enxerguemos com maior clareza o processo de aprendizagem, estratégias, personalidades e interesses individuais; interagindo de modo “sintonizado”, dando espaço para as crianças construírem sua aprendizagem, se tornando copesquisadores e coconstrutores da aprendizagem.
- A imagem da criança como rica e talentosa
Escutar as crianças muda o modo como pensamos sobre elas, muda nossos entendimentos e perspectivas sobre como aprendem e nossa imagem delas, enxergando mais claramente seu incrível potencial, sua riqueza, seus talentos, seus entendimentos e suas visões de mundo, seus sentimentos e relações com outras crianças e adultos à sua volta. Crianças e educadores integram um grupo de aprendizagem e são parceiros que inspiram, dão apoio e promovem o discurso, o diálogo e uma abordagem de documentação que registre a luta por significado.
Redigido e organizado por Katherine para o Grupo de Estudos “A Arte da Escuta: Inspirados por Reggio”
Pesquisa e sugestão: