Quando a criança entra em contato com diferentes materialidades, ela desenvolve seu processo criativo com maior plenitude.
Por exemplo, em casa, é bastante comum que os pequenos encontrem papel, lápis e, alguns mais sortudos, tinta. Porém, nem sempre há oportunidades de despertar o sensível potencial criativo que a infância deveria revelar. Por que criar barreiras?
Estamos imersos em uma cultura em que o prazer multissensorial está diretamente relacionado à sujeira e enfermidades. Contudo, quando os pequenos podem tocar, sentir, fruir, desenvolvem seu pensamento abstrato e criativo. Podem testar, confrontar, experimentar, conhecer suas sensações e limitações. Por meio dos sentidos, as emoções afloram. A cognição não é, definitivamente, ativada somente pela motricidade fina. Os materiais industrializados fazem parte do nosso acervo cultural e devem ser introduzidos. Contudo, em que momento as crianças poderão acessar materialidades em que suas funções originais são modificadas, que os desestabilizam cognitivamente?
Terra, gravetos, folhas, sabugos, gel, isopor, recicláveis, enfim, existe um mundo de oportunidades para que as múltiplas linguagens se manifestem. Mesmo as instituições mais simples podem contar com diversidade de contextos pedagógicos, desde que as práticas sejam bem-intencionadas e reflexivas. Por que dar pronto quando queremos encorajar o pensamento investigativo? Por que responder prontamente se queremos cidadãos curiosos e questionadores? Por que materiais limitados se queremos crianças cujas potencialidades sejam exploradas de forma contínua e ampla? Crianças não são seres incapazes, frágeis, indefesos. Ao contrário, nos surpreendem com sua sensível lógica própria, com sua singularidade que deixa marcas de quem questiona. São construtoras de cultura, história e co-protagonistas de sua aprendizagem. É por isso que evitamos oferecer atividades prontas e pré-definidas, mas propostas reflexivas
Em suma, as experiências da infância definem muito de como a criança se apresentará ao mundo. Suas potencialidades existem, contudo, por vezes não há instrumentos suficientes para que esta se manifeste em toda sua força e singularidade. Afinal, em ambientes pré-definidos, sabemos exatamente onde queremos chegar. Sabemos, portanto, as respostas desejáveis e não nos deixamos surpreender. Crianças, em espaços potenciais de aprendizagem, constroem mais do que paisagens estéticas, sonoras e dimensionais, constroem relações afetivas, constroem significado, ampliam sinapses, intensificam capacidades de abstrair, refinam vocabulário.
Ambientes ricos em materiais traduzem espaços de relações, percursos de aprendizagem plena, em que atos mecânicos são substituídos ou ao menos equilibrados pelo poder da autoria e da criação. Que tal receber as crianças com propostas diversificadas ou com cantos inusitados? Tecidos, blocos, madeiras, bacias, grãos, sementes, pedras, bambus, elementos da natureza de todo tipo. Desta forma, amplia-se a tão restrita dimensão estética e confere-se olhar sublime àquilo que outrora era óbvio demais para ser percebido. E isso simplesmente torna nossos pequenos mais sensíveis e criativos!
Saiba sobre como promover escolhas na Educação Infantil
Nossa prática é permeada por uma perspectia adultocêntrica, cuja estética é voltada para a perspectiva dos crescidos. A criança pequena, porém, também é curadora e tem na sua essência, a arte, pois não dispõe de mecanismos de temor, insegurança e autorregulação, naturais do universo adulto.
Pensar que nós, adultos, poderemos sempre prever como e o que as crianças aprendem, é um equívoco. Afinal, elas constroem suas teorias, nos ensinam e o meio é definitivamente, um terceiro educador. Então, incitemos nossos parceiros de educação a fornecer mais do que espaços estáticos e previsíveis, ambientes de aprendizagem. Ainda falaremos muito sobre isso!