A forma como avaliamos nossas crianças traduz muito da nossa concepção pedagógica. Isto quer dizer que uma avaliação pode ser inclusiva ou ao contrário, excludente, colocando o professor de forma do processo. Em verdade, a avaliação deve ser um instrumento reflexivo e construtivo. Na Educação Infantil, desenvolvemos aquilo que chamamos de Avaliação Formativa. Esta é constituída por intermédio do registro realizado pelos profissionais do desenvolvimento e da aprendizagem de cada criança e do grupo. Esses registros são pautados em observações diárias e cuidadosas, em diversos contextos e situações. Procura-se constituir material a partir da documentação pedagógica, quando o educador sistematiza seus registros intencionais, observando o grupo e avaliando-se consecutivamente sob diversas óticas e perspectivas. Relatar de modo formativo, significa informar-se em assessorias pedagógicas, formar-se continuamente e valer-se de linguagem descritiva, sem emprego de juízos de valor ou impressões pessoais vagas, sendo um exercício constante. É inevitável que desejemos apontar as dificuldades das crianças, nos isentando de qualquer responsabilidade ou possibilidade de ajuda. Contudo, pensar sobre o motivo implícito em determinado comportamento, bem como nossas intervenções, fazem parte do processo de avaliação que não é só do aluno, mas de toda a equipe docente.
A formalização de todas esses registros pode dar origem, por exemplo, a relatórios descritivos, tanto individuais quanto grupais, em que as observações, reflexões e intervenções do educador expressam as relações, características e reações de cada criança em suas relações interpessoais, de forma neutra e profissional.
Ao empregar-se critérios como “atingiu” ou “não atingiu”, muitas vezes se esquece de traçar perspectivas únicas de aprendizagem para a própria criança. Por vezes, aquilo que pode ser “parcial”, para determinada criança representa imensa conquista. Em outras situações, esses critérios sequer são mensuráveis. Perde-se, então, o caráter individualizado, e lança-se mão de uma avaliação mais mecanizada e comparativa, com o clássico uso de campos pré-definidos que assinalam uma criança nada previsível.
Assim, num movimento contínuo e reflexivo, constrói-se a história do desenvolvimento de cada criança e do grupo, coordenando-se diferentes pontos de vista de educadores, partilhando-os com os pais e com as próprias crianças, que têm ciência de seu processo e percurso de desenvolvimento. Para a criança, é possível, por exemplo, perceber seu crescimento retratado por intermédio de portfólios, frisas e de conversas com o professor, que ao seu modo e de acordo com sua faixa etária, lhe conta respeitosamente sobre o conteúdo de seu relatório. Na avaliação formativa, a criança também faz parte do processo, ela desenvolve gradativamente a capacidade de se perceber nesta evolução contínua.
Assim, além de constituir um documento histórico que foca o individual numa esfera coletiva, os relatórios representam descrições feitas pelo educador, em parceria com a coordenação pedagógica, orientação educacional e direção, e publicados aos pais, que se mantêm continuamente informados sobre o desenvolvimento integral de sua criança, também auxiliados pelo contato com os professores por encontros individuais. Nesse movimento de avaliação contínua e metódica, o educador sistematiza suas observações, reflete sobre a progressão dos fatos. Assim, os caminhos trilhados pela criança e pelo grupo tornam-se conscientes para os educadores e evidentes para os pais. Um dos benefícios da avaliação por relatórios descritivos é favorecer a observação consciente, a qual gera intervenções eficazes ao desenvolvimento e progressão das aprendizagens.