Embora a palavra “atividade” nos remeta a inúmeros significados, como manter-se ativo e criticamente sóbrio, este termo, num conceito mais simples e amplamente difundido, faz referência à realização de uma tarefa ou um trabalho na sua forma ativa ou, ainda, traz em seu sentido denotativo, sinônimos como tarefa e ocupação.
Analisando desta forma e como se é amplamente difundida na escola, a “atividade” acaba se caracterizando como uma ação que se executa com um fim em si mesma. É fato que no nosso dia a dia, inclusive na instituição escolar sócio-moral, há a presença de atividades cotidianas, e que por si só têm seu valor e são necessárias, como contar, escovar os dentes, tomar o lanche, participar de atividades permanentes e de sistematização etc. Ainda que essas atividades possam se converter em propostas significativas e com propósitos claros, podendo ser vinculadas a projetos, conteúdos ou sequências didáticas, há de se questionar sobre a importância e função formativa de cada uma delas.
O perigo maior, porém, está em sabermos ou não o “porque” fazemos determinada ação didática. Nesse sentido, as folhinhas configuram-se como instrumento de treinamento motor ou sistematização repetitiva de conteúdo usualmente empregado na Educação Infantil pouco ou nada reflexivo, de ordem bastante comercial, sem conceder espaço à criação, reflexão crítica, problematização ou a tal “manifestação da atividade humana”. Elas de certa forma emudecem as linguagens da infância.
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Contudo, o que se promove em salas de aula reflexivas, permeadas por valores sócio-morais construtivistas, em lugar de, por exemplo, famosas folhinhas ou atividades de colorir, desenhos absolutamente copistas, são PROPOSTAS que, mais do que atividades, são ações planejadas, refletidas, compartilhadas, que não se concluem na mera execução, mas que são inseridas em um contexto pedagógico anterior e posterior. Para propostas, não há resultado esperado, pois não há certo nem errado, há aprendizagem processual. Para atividades, há um único resultado aceitável: o correto ou que se insira na relativa estética adultocêntrica. E os trabalhos escolares? Na visão que respeita a cultura da infância e cultiva as suas marcas, “trabalhos” finalizados são, em verdade, produções, obras ou, novamente, propostas.
As propostas contam com o fator espontaneidade dos resultados criativos, com a criatividade afetiva de quem as planeja e com a criatividade reflexiva de quem as executa, além de contarem com objetivos claros, diferentemente de atividades “prontas” e didaticamente “pré-concebidas”. Estas últimas também se caracterizam pelos materiais didáticos ou “atividades tradicionais tão conhecidas e que sempre dão certo”, em que o professor e o próprio aluno pouco têm a contribuir, pois não são seus autores, tampouco protagonistas, mas meros coadjuvantes executores.