Desde muito pequenas, se bem ouvidas, é possível perceber que as crianças procuram produzir teorias interpretativas. A criatividade é uma qualidade do pensamento da criança, que é a maior e mais sensível avaliadora da utilidade de uma criação. Isso ocorre porque os pequenos têm o privilégio de não se prenderem a estereótipos e às próprias ideias, reconstruindo-as continuamente. Crianças exploram, descobrem, mudam perspectivas e se encantam por formas e sentidos que se modificam. Não é possível considerar a criatividade um dom ou uma dádiva extraordinária, já que ela emerge da própria experiência cotidiana.
A criatividade não deve então ser encarada como uma diferenciada e fragmentada faculdade mental, já que caracteriza nosso modo de agir, pensar, escolher e saber. Ela se expressa por intermédio de processos cognitivos, afetivos e imaginativos que unidos dão sustentabilidade às habilidades necessárias para se chegar a soluções inesperadas.
Sabemos que o processo criativo deriva de múltiplas experiências, junto ao desenvolvimentos dos recursos cognitivos pessoais, incluindo-se o sentido de liberdade para se aventurar muito além daquilo que nos é familiar. É por isso, então, que a Educação Infantil deve abrir portas, oferecer possibilidades, sair do convencional.
Sabemos hoje que muitos definem a inteligência como a capacidade de coordenar pontos de vista e de tomar decisões assertivas. Então, a criatividade poderia estar diretamente relacionada à cognição, pois a situação mais favorável para seu desenvolvimento parece estar vinculado às relações e trocas interpessoais, negociações de conflitos, comparações de ideias, e chegada a elementos decisivos. Enfim, a escola teria o cenário perfeito para impulsionar tanto a criatividade, quanto a inteligência!
Contudo, a criatividade parece encontrar sua máxima potência quando os adultos e crianças não se encontram presos a métodos prescritivos, mas, ao contrário, observam atentamente e se tornam intérpretes de situações-problema. Ela pode ser fortemente favorecida ou prejudicada pelas expectativas que a comunidade, escola, família e organizações têm sobre as crianças e a maneira que estas o percebem.
Podemos visualizar mais nitidamente a criatividade emergir quando os adultos que convivem com as crianças se atentam mais aos processos cognitivos do que aos resultados em diversos campos da aprendizagem, envolvendo o fazer e o compreender. Sendo assim, quanto mais os educadores estiverem seguros de que as atividades intelectuais e expressivas têm potencial multiplicador, mais trocas ocorrerão entre a criatividade, imaginação e a fantasia.
A criatividade necessita, por fim, fazer com que o saber da humanidade conecte-se com a expressão, abrindo caminhos para a manifestação das cem linguagens da infância. Deixemos, pois, as crianças criarem. Não podemos calar suas vozes e seu potencial expressivo, que se emudece à medida que lhes roubamos a infância e oportunidades de se expressarem genuinamente.
“Nossa tarefa em relação à criatividade é ajudar as crianças a escalar suas próprias montanhas.” (Malaguzzi, 1998, p. 75-77)