Como já diria Paulo Freire em sua obra de título “Professora sim, tia não!”, professor não é parente. Mas na Educação Infantil pode, afinal, tratamos de crianças tão pequenas, não é mesmo? E tia indicaria afetividade, proximidade…
Em verdade, independentemente da faixa etária com que se atua, a função do professor pressupõe preparo e formação constante. Estudos recentes e constantes nos oferecem indícios claros do quanto a Educação Infantil é decisiva para o desenvolvimento do sujeito. Sendo assim, simplesmente a ideia de que para ser professor, basta ser mãe, ou ainda, basta ter habilidade com crianças, não faz o mínimo sentido. O preparo do educador é, sem dúvida, tão ou mais importante do que em qualquer outro segmento, já que nos anos iniciais os modelos fora da escola se constituem como decisivos para a formação moral e intelectual. Em outras palavras: o docente, mais do que “professar” conteúdos do livro, deve se atualizar sempre e a escola deve investir nesta formação continuada. Ele é não só responsável por constituir e introduzir hábitos, mas desenvolver habilidades e influenciar cognitiva e emocionalmente de forma única. As experiências que o educador da primeira infância proporciona, sua linguagem, sua atuação, geram marcas indeléveis.
Partindo deste princípio, de que educadores da infância são profissionais bem preparados, não faz sentido chamá-lo de “tios e tias”. Embute-se aí uma ideia de brincadeira gratuita, descompromisso profissional e, ainda, ausência de seriedade no que se faz. Sim, existem tias comprometidas, mas infelizmente não é a ideia que o termo nos transmite. Palavras são decisivas quando ao sentido denotativo e sua utilização deve, portanto, ser atentada.
Outro aspecto que merece atenção é o diminutivo que se coloca à escola de Educação Infantil, minimizando-a ao conceito de “escolinha”, como se, até aquele segmento, o compromisso fosse uma brincadeira. Em verdade, nossa cultura é traduzida por nossas falas e ações implícitas. Por que a escola maternal é “inha”, minimizada diante dos demais segmentos? Os fazeres e práticas têm menor intencionalidade ou importância? Definitivamente, não.
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Outro aspecto interessante é o fato de se utilizar constantemente a expressão “tio(a)” para se referir a um adulto que afetivamente lide com a criança ou a um monitor infantil, por exemplo. Aliás, atenção, familiares: a vida de nossos filhos está permeada pelos “tios”! Devem, contudo, aprender que as pessoas possuem nomes próprios, que pode ser olhadas nos olhos, que possuem profissão. Os “tios” e “tias” têm invadido de forma silenciosa os resorts, clubes, festas, onde assumem a responsabilidade dos pais, evitando que as crianças desenvolvam suas noções de autonomia e automotivação. São, sim, excelentes pessoas na maioria das vezes mas, infelizmente, se tornam anônimos sobrecarregados.
E as professoras? O mesmo status. As tias. É isso que acontece quando esquecemos qual é a sua função, importância e formação. E para atuar com crianças pequenas, em toda sua sabedoria, complexidade e sensibilidade, é necessário sim ter formação acadêmica mínima, ao menos na escola. E o pior é quando há escolas que o desincentivam, minimizando seu próprio papel. Escolas, não admitam serem chamadas de “escolinhas das tias” a não ser que o sejam, e não há mal nenhum nisso, bastando uma reflexão para (deixar de) assumir sua identidade. Nesse caso, considere mudar o status para centro de recreação, em respeito às demais instituições.
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Lembrando: tio é um grau de parentesco. O amigo da mamãe não é o titio, a não ser que seja irmão dela. Simples assim. As crianças têm ampla capacidade cognitiva de assimilar novas ideias e perspectivas, basta começar a exercitá-las.
E como anda esta questão na sua escola ou na do seu filho?