É comum que pensemos que as crianças não sejam capazes de brincar de forma colaborativa e de formar vínculos e amizades antes do quinto ano de vida.
A maioria delas, porém, principalmente as que já frequentam uma escola maternal, não só desenvolvem noções de convivência, mas também constituem a longo prazo a ideia de respeito, cooperação e amizade, por meio do convívio social. Neste, é comum e natural que ocorra o comportamento denominado “anti-social”, ocasionado por normais e esperados conflitos entre colegas.
Ainda enfrentando a fase do egocentrismo, característica própria à faixa etária, a criança em idade maternal ainda se situa no centro do universo, não se sentindo segura para reconhecer ou levar em consideração as necessidades, desejos ou sentimentos dos amigos ao seu redor. E isso não significa, absolutamente, que não está interagindo, pelo contrário, está ampliando seus conhecimentos sociais.
Na interação, é dificultoso colocar-se na perspectiva alheia, o que torna a convivência naturalmente conflituosa, mas essencial para a posterior construção das primeiras noções de vida em grupo e de cidadania.
Embora gostem de companhia, os pequeninos ainda sentem dificuldade em partilhar objetos que lhe são atrativos, o que gera empurrões, gritos, chutes e mordidas; estas sobretudo durante a fase oral (sugerida por Piaget e estendendo-se aproximadamente, até os dois anos e meio de idade), em que a boca ainda centraliza sensações e representa o principal canal de conhecimento do mundo. Em suma, o objeto na mão do amigo, sob a influência de um fenômeno chamado animismo, tem vida, e por isso é mais interessante do que quando vem para suas mãos. Nesse caso, a famosa resolução da mamãe de comprar uma bola igual, não tem muito hêsito, pois a do amiguinho sempre será mais interessante, justamente pelo prazer estar centrado no objeto, e não no sujeito.
A vida social acarreta novas ações e reações, testes e experimentações, o que muitas vezes assusta os pais, que compartilham e solicitam auxílio da escola. Contudo, muitas vezes esquecemos que ser mordido não representa, nesta faixa etária, forma de agressão. Pelo contrário, é o início de uma convivência que, certamente, também representa uma forma de aprender, afinal, morder significa expressar-se quando a linguagem oral ainda não está plenamente desenvolvida.
Muitas vezes, é natural que os responsáveis sintam-se insatisfeitos e confundam um conflito momentâneo com “agressão”, quando, em verdade, as próprias crianças reagem e superam com muita normalidade aquilo que lhes é natural: conviver!
É justamente por meio da reação do outro e da posterior orientação do adulto, que a criança compreende que o amigo também tem sentimentos, ainda mais se o adulto ali presente, seu modelo direto, não se restringir ao “não”, mas acompanhá-lo dos “porquês”; afinal, as regras se tornam menos arbitrárias quando suas razões são efetivamente compreendidas. Lembre-se também, que o conflito pertence à criança, são naturais, e são compreendidos como oportunidades de crescimento nas escolas reflexivas. É importante, antes de rotular qualquer amiguinho, conversar com outros pais ou dar importância em demasia a situações que apenas podem estar testando sua reação, verificar junto a escola o que de fato está ocorrendo.
Há situações, sobretudo diante dos pais, em que reações físicas (mordidas, tapas etc.) não ocorrem, mas os conflitos referem-se aos naturais “testes de limites”. Nesse caso, a intervenção da família também é fundamental. Advertir ou orientar uma criança por um comportamento socialmente não recomendável, não fará com que os pais percam seu amor e confiança. Ao contrário, tornará sua vida mais segura, à medida que conhecerá seu espaço de ação, limitações e, assim, sentir-se-á querido, protegido.
Do mesmo modo, entender uma suposta agressão ao seu filho como uma normal experimentação de sentimentos, tornará a convivência mais amena e trará oportunidades para que ele também exponha seus sentimentos e, aos poucos, evite e até responda aos conflitos com colegas de maneira saudável e autônoma, possibilitando negociações mútuas, que favoreçam ambas as partes.
E você, mãe, pai ou professor, como anda reagindo aos conflitos de sua criança?