É importante que ao longo de sua prática pedagógica, o educador recorrentemente exercite sua autorreflexão. Por exemplo, é imprescindível que ele se pergunte como a criança tem se relacionado com seus pares e com os adultos à sua volta e, ainda, como nós, adultos, nos relacionamos com esta criança.
Ao se questionar, é importante que as reflexões abordem o significado de uma Pedagogia da Infância, sobre a sua visão e ação pedagógicas, bem como concepções implícitas a elas.
Na relação entre as crianças, há grande importância no trato que uma dedica à outra, bem como necessidade de se sentir o prazer de estarem na companhia umas das outras. A essa idéia podemos acrescentar a citação de Henry Wallon que diz: “O indivíduo é um ser geneticamente social, ou seja, ele não sobrevive sem o outro”.
Em relação à família, é imprescindível que haja um diálogo qualitativo permanente, sendo este um componente determinante para o sucesso relacional, sendo preciso então acolher esta família da forma que se apresenta e não da maneira idealizada por nós, educadores. Não se pode desejar encontrar culpados para os problemas e/ou dificuldades que as crianças apresentam, mas sim encontrar caminhos para parceria e desenvolvimento contínuo dos pequeninos, com trocas constritivas de saberes e perspectivas pedagógicas e familiares.
Quanto ao educador, faz-se necessário aprender a estudar as crianças, conhecendo intimamente a faixa etária e suas implicações, seu pensamento e características cognitivas, a diferença entre os gêneros, além do pensamento infantil e seus incríveis desdobramentos. A formação continuada do educador, sua escuta ativa e capacidade de conhecer as múltiplas linguagens da infância garantem a qualidade do processo educativo.
Já a dimensão espaço/ tempo envolve a de oferta de oportunidades de tomada de decisões e responsabilidades quanto ao tempo cronológico e materialidades utilizadas, desde cedo, na companhia de colegas de diferentes faixas etárias, em locais cognitivamente estimulantes e desafiadores. Isto significa dizer, em palavras curtas, que as crianças precisam aprender a tomar decisões e podem ser responsáveis pelo tempo que utilizam. A criança é um ser em pleno desenvolvimento e está inserida num ambiente que pressupõe organização material, estética e temporal.
Com tantas transformações e influências, a sociedade está construindo um jeito de ser criança, de maneira que precisamos ter clareza do significado da Pedagogia da Infância, estudando intimamente as crianças, não no sentido de traçar o que elas virão a ser, mas de aceitar quem elas são, entender melhor sua identidade e relações estabelecidas. A Pedagogia da Infância, que dá nome a este canal reflexivo, pressupõe a capacidade de descobrir, questionar, desestabilizar-se e pensar sobre outras coisas, envolvendo:
- espaço organizado na relação com as crianças;
- brincar como ponte entre a natureza e a cultura;
- história de vida;
- documentação pedagógica como suporte;
- linguagens múltiplas;
- planejamento como garantia da intencionalidade educativa.
Essa Pedagogia tem que ser contextualizada e variar de acordo com os contexto sociais perpassados. É preciso dar mais valor à fala e ao pensamento infantil, aos seus ensinamentos e teorias provisórias. As crianças precisam aprender a tomar decisões e podem aprender a organizar e a se responsabilizar pelo próprio tempo vivenciado, basta que oportunizemos boas condições organizacionais em seu cotidiano para que isto ocorra.
Por exemplo, conhecendo-se melhor a criança pequenina, em idade maternal, pode-se perceber que há especificidade no seu processo de adaptação escolar, pois se trata de uma capacidade que passa por outras relações, em geral, iniciadas na família e que servem de base para as futuras relações. Passa por bases epistemológicas, axiológicas e ontológicas. Os saberes construídos pelas crianças vão se ampliando em redes e, com isso, estão interligados. Consequentemente, faz-se necessário rever a visão que temos sobre o espaço de socialização, pois muitas vezes afirmamos que este é um aspecto difícil e desafiador, e, virtude dos conflitos. Ao invés de tratarmos como um “espaço difícil” podemos vê-lo como extremamente rico e desafiador, além de fundamental para o bom desenvolvimento humano, já que o conflito é inerente ao movimento humano, é fruto do desenvolvimento reflexivo, comum às classes participativas e oportunidade de aprendizado.