Crianças e animais: combinação que não dá certo. Certo? Errado! Muitos médicos colocam a importância de se manter um ambiente estéril, preservar a integridade física da criança, evitar as tão comuns alergias que são largamente desencadeadas por diferentes fatores. E todos os profissionais têm razão. Animais trazem, inevitavelmente, bactérias. Algumas visões mais diferenciadas até abrem a possibilidade de tê-los a partir de uma certa idade apenas, alegando a favor do contato com anticorpos. Contudo, pode ser um conselho da minoria e, ainda assim, nem todas as famílias sentem-se confortáveis com os pêlos, arranhões e trabalho que o bichinho eventualmente possa acarretar.
Muitas optam inicialmente por um peixinho, um passarinho, por exemplo. No entanto, um aspecto deve ser considerado: nunca, jamais assuma a guarda de um animal, qualquer que seja, sem que possa se responsabilizar por ele. Animais se apegam sim ao seu lar, aos seus donos, sofrem, sentem dor e precisam ser bem cuidados. Crianças têm direitos e deveres sobre eles: direito de obter companhia, amor, prazer, mas o dever de cuidar, tratar bem e retribuir o carinho. A vantagem de ter um bichinho de cuidados mais acessíveis como um peixinho é o início progressivo dos hábitos de responsabilidade. E, certamente, representam uma ótima opção em caso de restrição médica, por exemplo. Quanto mais espécies nossas crianças conhecerem, melhor será!
Contudo, incluir um animal que interaja fisicamente, como uma cão ou um gato, é ainda mais promissor em virtude da relação emocional fortemente desenvolvida. Aqui, encorajamos a criança a participar de todas as etapas da escolha do bichinho, desde o nome até a espécie, desde que dentre as possibilidades oferecidas e permitidas pela família. Incentiva-se fortemente a adoção, pois muitos animais nessas condições são ainda mais carinhosos, necessitando muito de um lar, e tornam-se muito gratos por terem sido escolhidos. Escolher um animal somente pela aparência não pode ser um critério válido. Aliás, com toda certeza, a criança definitivamente não leva nossa estética em consideração, mas conecta-se emocionalmente com os bichinhos. E o conceito de beleza para a criança é bem relativo.
É inevitável que ocorram preocupações com a acuidade física dos pequenos, como eventuais arranhões e mordidas causadas por brincadeiras. A criança aprende, aos poucos, que os bichinhos também têm seus limites, têm sensibilidade. Assim, as crianças descobrem como modular força, entonação, bem como encontram melhores formas de interagir com seus pets. Isso, para os pequenos, são fundamentos preciosos para que mais para frente, exercitem suas habilidades sociais com colegas.
Outro aspecto importante é que as crianças sejam observadas pelos responsáveis e orientadas a tratar seus animais como gostariam de serem tratadas. Isto é, em caso de maus-tratos recorrentes, a família deve explicar que não é possível permanecer com o animal na casa, visto que este demanda cuidados específicos. Pode ser doloroso, mas quando se trata de seres vivos, o princípio da vida está empregado. O mesmo deve ocorrer se o pet ataca seus donos sem provocação ou motivo aparente. Deve-se tentar todos os recursos, mas se houver risco efetivo para qualquer parte envolvida, um novo destino, desde que digno, deve ser considerado. Abandonar, jamais, somos responsáveis legais por tudo aquilo que assumimos.
Os benefícios de terem um animal em casa vão muito além do prazer, ludicidade e alegria. Aqui, nosso foco é pedagógico e emocional, não clínico. Isto é, focamo-nos nos benefícios sócio-ambientais, na interação saudável que esta relação desenvolverá. Muitas visões holísticas colocam inclusive a positividade e ergética atraída por um animal. Independentemente disso, comprovadamente, sentimentos de empatia desenvolvidos desde a primeira infância são desencadeados também pela relação com os seres vivos de outras espécies. Quando as crianças sentem-se mobilizadas e sensibilizadas, desenvolvem sentimentos que as ajudarão a refinar suas habilidades sociais interativas, a reconhecer seus sentimentos e emoções.
Algumas escolas privilegiadamente contam com espaços como pequenos sítios ou fazendinhas em que os pequenos podem conviver e exercitar os cuidados com os animais. Este contato em muito beneficia o respeito pela natureza, a consciência e atuação em consonância com o meio ambiente. Contudo, mesmo as escolas menores podem oferecer passeios externos, terrários em sala, enfim, possibilidades alternativas. E nunca tendo como justificativa o fato de que simplesmente as crianças “gostam” ou “se divertem” com os animais. O foco do ensino, desde a Educação Infantil deve ir muito além, sendo permeado por consistência e consciência pedagógica.
A relação é quase óbvia: crianças que convivem com a natureza e com animais, têm mais oportunidade de desenvolver atitudes de responsabilidade e solidariedade, além de se tornarem mais seguras em diversos tipos de contexto, ou seja, naqueles com maior ou menor nível de urbanização ou assepsia. Possivelmente terão mais chances de contemplar precocemente as maravilhas de uma paisagem natural, e menos chances de apresentar estranhamento em ambientes rurais, por exemplo. Isso sem citarmos a ampliação do repertório sensorial, quando se tornam menos defensivas tatilmente falando, ou seja, recebem com maior prazer as texturas e sensações do meio. Quanto mais amplas e ricas as experiências, mais estimulados estarão os pequeninos a desbravarem os mistérios e desafios do mundo. E quando puderem fazê-lo com consciência interplaterária, percebendo a interdependência de todos os seres, a conexão humana com a natureza, talvez o homem pare de se julgar o único ser de valor na terra e passe a tratar seus recursos e outros habitantes com maior apreço, reconhecimento e dignidade.
Então, mamãe, que tal começar no quintal ou na varanda de casa?